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Segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Corrupção e a reforma política

O país do mensalão piorou sua posição no ranking mundial de corrupção. De acordo com a Transparência Internacional, entidade responsável pelo levantamento, o Brasil saiu da 69ª posição em 2012 para o 72º lugar em 2013. Estamos empatados com África do Sul, Bósnia, Sérvia, São Tomé e Príncipe. Segundo o diretor da Transparência Internacional, Alejandro Salas, há um descolamento entre a percepção da corrupção sobre o Brasil e sua importância geopolítica. Para ele o país se tornou uma das economias emergentes mais importantes do mundo, mas não consegue combater a corrupção. O Brasil segue dando vexame no cenário mundial nos levantamentos envolvendo a corrupção, praga que compromete seu desenvolvimento socioeconômico. A maracutaia impregnada na sociedade brasileira é um dos fatores que limitam os investimentos na economia. As repetidas avaliações ruins do Brasil não surpreendem mais. Vira e mexe surge um fato novo mostrando como os impostos vão para o ralo por conta da corrupção na administração pública. Superfaturamento de obras e serviços, tráfico de influência, fraudes em licitações e outras maracutaias viraram uma rotina no país. O contribuinte brasileiro se sente impotente frente à roubalheira e fica indignado com a impunidade que beneficia políticos e servidores inescrupulosos que sorrateiramente tiram recursos de hospitais, escolas, rodovias, segurança, etc. É revoltante para o trabalhador brasileiro ver que políticos e servidores públicos se apropriam sordidamente de parte de seu esforço. A roubalheira no país prolifera espantosamente e a reforma política poderia ser um ponto de partida para coibir a corrupção. A reforma política deve ser capaz de contribuir para moralizar a administração pública brasileira. Ela precisa “desprofissionalizar” a política e contribuir para desmontar as organizações criminosas incrustadas no governo. O processo deveria começar proibindo que parlamentares ocupem cargos executivos; precisaria reduzir drasticamente o número de servidores em cargos em comissão, o que formaria um corpo técnico estável no governo; e determinar que, caso fique comprovado que parlamentar indicou servidor para qualquer cargo executivo, ele perderia sumariamente seu mandato. É imprescindível moralizar a máquina pública brasileira em todos os níveis. É preciso remodelar os parâmetros comportamentais da classe política do país. Um cargo eletivo deveria ser uma contribuição que todo cidadão oferece temporariamente à coletividade, jamais deveria ser transformado em atividade profissional. Um político que que se afasta de sua profissão e que passe a depender da política para sua manutenção torna-se capaz de tudo e de qualquer coisa para sobreviver. _________________________________________________________________________ Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto único. É Subsecretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. www.facebook.com/marcoscintraalbuquerque www.marcoscintra.org mcintra@marcoscintra.org

Marcos Cintra

Marcos Cintra Opinião Econômica

58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.

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