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Segunda-feira, 12 de maio de 2014
Desejo de mudança e um projeto para o Brasil
Pesquisas de opinião pública apontam que o eleitor brasileiro deseja mudanças nas próximas eleições. Todos devem concordar que um dos anseios nesse sentido refere-se à questão tributária. Essa é uma das maiores demandas sociais e os dois principais candidatos de oposição à Presidência da República, Aécio Neves e Eduardo Campos, vêm propondo uma reforma no burocrático e caro sistema de imposto que vigora no país. Apenas Dilma Rousseff, que disse em 2010 que a faria se fosse eleita, não tem se manifestado sobre o tema. Frente a esse cenário, convém voltar a debater os problemas tributários do país e expor a ideia do Imposto Único, projeto parado há doze anos no Congresso, como alternativa viável. Cumpre dizer que, quando se discute a reforma tributária no Brasil, fundamentos como eficiência dos mecanismos de arrecadação, eqüidade, custos, incidências e combate à sonegação ficam em segundo plano. Porém, esses pontos devem ser priorizados na construção de uma estrutura de impostos justa e que estimule a produção. Desde 1990 proponho o Imposto Único como alternativa para o país. A proposta demarcou uma linha divisória entre o pensamento ortodoxo, baseado na manutenção do atual sistema de impostos declaratórios, e uma corrente inovadora, que propõe uma estrutura simples, automática, abrangente e de baixo custo, consubstanciada na tributação sobre a movimentação financeira realizada através do sistema bancário. A ideia do imposto único surgiu no século 18 com os fisiocratas, que defendiam a simplificação através da taxação da terra como única fonte de extração de receita para o governo. A questão que sempre norteou a intenção de se criar um sistema simples de tributação foi a busca de uma base tributável ampla o bastante a ponto de gerar receita suficiente para o poder público. A principal razão de seu ressurgimento no Brasil advém de razões históricas. Ainda que o Imposto Único tenha uma longa e respeitável tradição na evolução do pensamento econômico, ele nunca pode se materializar, pois em nenhuma circunstância histórica uma sociedade reuniu as duas condições básicas para sua efetiva operacionalização. A primeira é a existência de um sistema bancário altamente informatizado, com um sistema nacional de compensação de cheques e documentos. A segunda é a predisposição cultural da sociedade de não usar moeda manual, substituindo-a pelas mais variadas formas de moeda escritural. O Brasil preenche plenamente esses dois quesitos. Possui um dos sistemas bancários mais desenvolvidos e informatizados do mundo, com padrões tecnológicos superiores aos encontrados em países como, por exemplo, os Estados Unidos e Japão. Em realidade, o país é referência mundial em tecnologia bancária. Além disso, é uma das economias mais desmonetizadas do planeta e que já absorveu a inevitável substituição da moeda manual pela moeda escritural, principalmente pela moeda eletrônica. O Imposto Único traz inúmeras vantagens de ordem tributária. A fiscalização torna-se mais simples, os critérios de taxação ficam mais transparentes, os custos público e privado tornam-se menores. A simplificação se torna evidente quando toda a arrecadação se concentra em um único tributo, incidente sobre uma única base. ____________________________________________________________________ Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto único. É Subsecretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. www.facebook.com/marcoscintraalbuquerqueMarcos Cintra
Opinião Econômica
58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
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