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Segunda-feira, 19 de maio de 2014
Erros na condução da economia
Entre 2004 e 2008 o Brasil registrou crescimento econômico médio de 4,8% ao ano em decorrência da expansão do crédito para as pessoas físicas; do forte crescimento da massa salarial, causado por ganhos reais de salários e queda do desemprego; e da elevação da demanda externa por commodities. A partir de 2009 o quadro se inverteu. De lá para cá a média de expansão do PIB caiu quase pela metade, 2,6% ao ano. Em boa parte, isso decorreu do arrefecimento do impacto externo causado pela crise global de 2008. Mas, contribuíram também para o baixo crescimento erros estratégicos do governo e falhas na condução da política econômica. A piora do desempenho econômico só não foi mais acentuada por conta do consumo das famílias, que continuou fortalecido com a sustentação do desemprego em patamar reduzido, pela continuidade da elevação real dos rendimentos do trabalho e por causa da manutenção da expansão da oferta de crédito para as pessoas físicas. Quando a economia ia bem o governo deveria ter avançado em reformas estruturais que se arrastam há anos no país, como a tributária, a trabalhista e a previdenciária. Isso não ocorreu. Essa omissão custou caro na etapa seguinte. Hoje o país cresce pouco e a inflação pressiona. Além de não ter encaminhado as reformas necessárias, o governo conduziu mal a política econômica. Houve erro quando achou que forçando a queda nos juros os agentes responderiam automaticamente com aumento nos investimentos. Ocorre que a insegurança causada pelo excesso de intervencionismo estatal combinada com outros entraves como a burocracia e questões regulatórias inibiram esses investimentos. Sem os investimentos imaginados pelo governo surgiu o descompasso entre oferta agregada e demanda agregada. O resultado foi a pressão inflacionária, que só não ultrapassou o já elevado teto de 6,5% porque o governo vem segurando artificialmente os preços de bens e serviços, como os da gasolina, da energia elétrica e dos transportes públicos. Em termos de falhas na política econômica há também a questão da política fiscal. O governo amenizou o impacto do baixo crescimento sobre o mercado de trabalho através de desonerações tributárias. Imaginou que abrindo mão de receita poderia ter maior arrecadação mais à frente com uma possível aceleração da expansão do PIB. Porém, o crescimento imaginado não veio. Com a expansão das despesas, até como forma de tentar animar a economia, e a receita crescendo abaixo do esperado o resultado foi a queda do superávit primário dos 3,1% em 2011 para 1,9% em 2013, saldo obtido em boa parte através de medidas que ficaram conhecidas como contabilidade criativa. Portanto, vivemos hoje uma situação de baixo crescimento e pressão inflacionária por conta de barbeiragens do atual governo na condução das políticas públicas. ______________________________________________________________________ Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto único. É Subsecretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. www.facebook.com/marcoscintraalbuquerqueMarcos Cintra
Opinião Econômica
58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
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