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Quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Produtividade e crescimento
A chave para o crescimento econômico de longo prazo é a produtividade. Entre 2004 e 2008 ela sustentou o avanço anual médio de 4,8% do PIB e ajudou a manter a inflação sob controle. A produtividade do trabalho cresceu naquele período 2,84% ao ano e a total dos fatores 2,34% ao ano. A partir de 2009 até 2013 o quadro mudou. A expansão média do PIB caiu para 2,6% ao ano e a inflação passou a pressionar. A produtividade do trabalho declinou para 1,96% ao ano e a total dos fatores para 0,88% ao ano. O Brasil decepciona em todos os fatores que impactam sobre a produtividade. Há carência de mão de obra qualificada, a capacidade de inovação tecnológica é reduzida, os investimentos privados são insuficientes e a infraestrutura é precária. Em termos da qualificação da mão de obra vale dizer que entre 2002 e 2012 o número de pessoas com mais de onze anos de estudo melhorou, passando de 23,4% para 36,1% entre cidadãos com mais de dez anos de idade. Porém, isso não vem impactando positivamente sobre a produtividade atual, da mesma forma que não teve peso importante no passado, porque a qualidade do ensino no país é uma lástima. Por exemplo, o PISA, programa internacional que avalia a qualidade da educação em 65 países mostra que o Brasil é o 58º colocado em habilidade com leitura e em matemática e o 59º em ciências. Em relação à inovação a situação se revela razoavelmente boa quanto ao volume de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). O Brasil aplica 1,2% do PIB em P&D, algo próximo ao observado na Itália, Espanha e Portugal, mas em termos de retorno o país está atrás, por exemplo, da Argentina, do México, da Rússia e do Chile. No tocante aos investimentos a situação também é ruim. Nos últimos dez anos eles representaram em média 17% do PIB contra 52% na China e 23% no México e no Chile, por exemplo. Na esfera da infraestrutura o grande entrave está na incapacidade orçamentária do poder público em ampliar e manter os sistemas de transporte e logística, de telecomunicação, de energia, de saneamento básico e de mobilidade urbana. Da década de 80 até hoje, a carga impostos cresceu de 25% para 35% do PIB, mas esses recursos foram canalizados para expandir gastos com a seguridade e a manutenção da máquina pública. O peso dos investimentos foi reduzido de 22% para 17% do PIB. O Brasil conseguiu reduzir o contingente de pessoas em situação de pobreza e miséria por causa do crescimento econômico observado entre 2004 e 2008. Com a queda da expansão do PIB a partir de 2009 a saída momentânea foram as desonerações tributárias setoriais, que mantiveram o emprego em alta. Essas medidas têm um tempo de validade e já estão vencidas. Hoje o país cresce apenas 1% ao ano e a inflação deve superar o teto de 6,5% a partir de 2015. Apenas a aceleração do crescimento econômico é capaz de reduzir a miséria e a pobreza. Essa expansão deve se manter por longo tempo e com inflação sob controle. Para isso, a saída é a elevação da produtividade. Em função do tempo requerido para mudar a estrutura dos fatores que impactam sobre ela, a expectativa é que o PIB brasileiro não poderá ter um ritmo de expansão elevado como ocorreu entre 2004 e 2008. _________________________________________________________________________ Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto único. É Subsecretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. www.facebook.com/marcoscintraalbuquerqueMarcos Cintra
Opinião Econômica
58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
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