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Sexta-feira, 6 de março de 2015

Ajuste na Petrobrás

A enxurrada de infortúnios para os brasileiros não cessa. Fatos como o aumento do desemprego e da inflação, a queda na produção doméstica, a deterioração das contas públicas, as elevações dos preços da energia elétrica e dos combustíveis e a convicção de que a corrupção é uma endemia no Brasil marcaram o início de 2015 e criaram um ambiente de incerteza crescente no país. Duas das principais calamidades que foram jogadas no colo dos brasileiros neste começo de ano são as medidas fiscais recessivas e o impressionante corte de investimentos e venda de ativos que a Petrobrás terá que realizar para tentar colocar suas finanças em ordem e voltar a ter credibilidade. Na esfera fiscal o governo vem realizando cortes de gastos que não poupam nem áreas sociais que foram bandeiras políticas durante a campanha eleitoral. Algumas despesas estão sendo reduzidas, mas o peso maior do ajuste se dá através do expressivo aumento da carga de tributos. Renúncias de receita foram revistas e retiradas e impostos foram majorados para tentar recuperar as contas públicas, destruídas ao longo dos últimos anos em função de uma política econômica muito mal conduzida. A expectativa é que o plano recessivo em andamento tenha um impacto superior a R$ 110 bilhões este ano no bolso dos brasileiros. Os brasileiros terão que arcar com um ajuste de grandes proporções não só no âmbito do orçamento público. Dias atrás a Petrobrás anunciou que terá que fazer um corte de até R$ 30 bilhões nos investimentos em 2015 e precisará vender ativos da ordem de US$ 13,7 bilhões para conseguir recursos. Entre o final de 2012 e o final de 2014 a dívida da petroleira saltou de R$ 181 bilhões para R$ 332 bilhões, fruto da má gestão em uma empresa que passou a financiar um projeto político voltado à perpetuação do PT no poder. Apenas neste ano a dívida a ser paga é da ordem de R$ 40 bilhões e em 2016 o total é de R$ 57 bilhões. A roubalheira e a esculhambação na gestão da Petrobrás, que ao longo de décadas se transformou em um ícone para o país, gerou uma perda estimada em torno de R$ 90 bilhões. Destruíram a imagem de uma empresa respeitada no exterior. O efeito disso tudo é que a petroleira terá que passar por um ajuste doloroso. O Brasil terá que encarar mais um descalabro provocado por um governo irresponsável e corrupto. A Petrobrás investe R$ 100 bilhões por ano. Há fornecedores que dependem exclusivamente das encomendas dessa empresa. Muitos deles já estão demitindo empregados por conta das investigações policiais envolvendo os esquemas de corrupção e a redução dos investimentos irá sacrificar mais funcionários na cadeia de petróleo e gás. Em termos da economia como um todo, o corte dos investimentos da Petrobrás vai aprofundar a recessão. A empresa responde por 42% dos investimentos industriais e por 12% do total dos investimentos no Brasil. O consumo no Brasil está afundando há algum tempo por causa da fragilidade da economia e vai cair ainda mais com o ajuste fiscal. Agora são os investimentos que devem imbicar mais fortemente para baixo. A recessão que o governo criou com seus sucessivos erros e a falta de ética será pior que o previsto e deve prolongar-se ao longo dos próximos dois ou três anos. ______________________________________________________________________ Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto Único. www.facebook.com/marcoscintraalbuquerque

Marcos Cintra

Marcos Cintra Opinião Econômica

58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.

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