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Quinta-feira, 12 de março de 2015
Porque abandonar o emprego para empreender
Você está bem na sua empresa, com um bom emprego, uma boa perspectiva de carreira, sendo bem avaliado pelos superiores, respeitado pelos colegas, admirado pelos subordinados, com um ótimo salário e superando as metas a cada ano. De repente, vem um amigo com uma excelente oportunidade de negócio e te chama para ser sócio dele. Vale a pena jogar tudo para o alto para aproveitar a chance, talvez única, de ser o dono do próprio nariz? Muitos de nós já passamos por esta situação na vida ou vamos passar. Um dilema muito comum que costuma resultar na perda da oportunidade em favor da manutenção do emprego. Porque isso acontece? A lógica da decisão de pessoas que se acostumam a ser bons funcionários e valorizam o meio corporativo é a rejeição à incerteza. Como eu não sei o que pode acontecer com este novo negócio, é melhor continuar com o que está dando certo e cujo futuro é mais previsível. Na verdade, existem vários fatores a se considerar ao tomar uma decisão tão importante na vida quanto este novo direcionamento de carreira que pode mudar tudo na sua vida. Vamos a elas: Fatores pró empreendedor: - Em primeiro lugar, podemos dizer que nada é garantido no mundo corporativo. Como você não é o dono da sua carreira, por mais competente e valorizado que seja, você está sempre sujeito a decisões não racionais que vão impactar a sua carreira. Eu já vi vários profissionais serem demitidos sem um motivo aparente. Quanto maior a sua confiança na empresa, mais traumático é este tombo. - Por mais que você negue, a acomodação com o ambiente corporativo é inevitável. Instintivamente, você procura argumentos que justifiquem a manutenção do seu estado atual. Mesmo que não esteja tão bom, os argumentos ganham mais força na comparação com a aventura do negócio próprio. Sair da zona de conforto exige uma grande força de vontade. - Por melhor que sejam suas perspectivas de carreira, você sempre será um empregado, sempre terá um chefe, sempre terá que reportar para alguém e nunca terá toda a autonomia que deseja e tem direito. A perspectiva de autonomia é uma das maiores motivações de quem abre um negócio próprio. - Dinheiro. Isso é inevitável. Como empregado, você vai ter bônus, participação nos lucros e tudo o que tem direito qualquer funcionário competente e bem qualificado, mas como empreendedor, estes ganhos são potencialmente muito maiores, a possibilidade real de ter as condições financeiras para realizar qualquer sonho. - Algumas pessoas tem uma enorme necessidade de autodesenvolvimento. São pessoas que não se contentam com a mesmice e a rotina e buscam crescer sempre, explorando oportunidades para evoluir e aprender constantemente. O emprego limita estas possibilidades a não ser que sejam exploradas movimentações de carreira horizontal ou outras empresas. Como empreendedor, entretanto, o aprendizado não acaba nunca. A cada dia, um novo desafio proporciona um novo aprendizado. - Embora a primeira vista, a carreira empreendedora seja vista como uma atividade capitalista, que visa exclusivamente o lucro, verdadeiros empreendedores sabem que, no fundo, estão contribuindo, através dos seus negócios, a mudar e melhorar o mundo. Novos produtos, o ciclo da economia, os empregos gerados, tudo isso contribui para construir um mundo melhor. O impacto ainda é maior se o produto ou serviço comercializado gera algum impacto, direta ou indiretamente, na sociedade ou no ambiente. - Talvez um dos maiores atrativos da carreira empreendedora seja o senso de realização, a ideia de que está construindo algo para si e para sua família, algo que vai perenizar e deixar a sua marca. No começo isso nem sempre é claro, pois o foco é sobreviver e fazer algum dinheiro, mas com o tempo, o empreendedor começa a ter a percepção da missão do seu negócio. Fatores pró-emprego: - Existe uma ilusão construída sobretudo por profissionais experientes e bem sucedidos, que empreender é fácil e que sua competência como funcionário é mais do que suficiente para ser bem sucedido como empreendedor. Trata-se de uma ilusão porque empreender exige competências muito diferentes e diversificadas daquelas exigidas em uma carreira executiva. Um bom funcionário não necessariamente será um bom empreendedor. - Dinheiro. Sim, a perspectiva de ganhar muito dinheiro é real, mas a realidade no curto prazo é sobreviver com recursos escassos. Mesmo conseguindo um investidor de risco, o empreendedor precisa demonstrar ser capaz de sacrificar seu estilo de vida para investir no negócio. A fase inicial, que pode exigir alguns meses, e talvez alguns anos até, pode ser de ‘comer grama’ mesmo e muitos não se sujeitam a este nível de sacrifício. - A tão propalada liberdade e autonomia pode significar outra coisa completamente diferente. As decisões finais são sempre do empreendedor, mas ele não pode simplesmente fazer o que lhe der na telha, ele deve satisfação sim, a clientes, a funcionários, ao governo, ao banco, aos fornecedores, a um monte de gente e entidades que tem alguma relação de dependência com o seu negócio. - Não dá para falar de empreendedorismo sem falar de risco. A tolerância a correr riscos é uma característica pessoal. Algumas pessoas são mais propensas ao risco do que outras. Se você gosta de jogar, de se aventurar, se sente bem em ambientes ambíguos e em regime de incerteza, então não vai se incomodar em conduzir um negócio que pode não dar em nada no futuro. - Embora nenhum emprego seja garantido, sua mobilidade é melhor do que a carreira empreendedora. Se perdemos o emprego, podemos arrumar outro, mas se o meu negócio quebra, começar outro é muito mais difícil e incerto. - Muitas pessoas sonham em montar um negócio próprio com a perspectiva de se dedicar a fazer o que gosta, mas na prática, o empreendedor é obrigado a fazer muitas coisas que não gosta também. Visitar clientes, negociar com fornecedores, contratar e demitir funcionários, pedir um financiamento ao banco, controlar o caixa, são algumas das atividades que todo negócio exige e que pode não ter nada a ver com a atividade do negócio em si. - Ter mais tempo livre para curtir a vida e a família poderia estar na lista das vantagens em empreender, mas infelizmente isso só vai acontecer quando o negócio atingir um estágio de maturidade e estabilidade que pode levar anos. Até lá, o empreendedor vai dedicar muito mais tempo ao negócio do que dedicava ao emprego, pois a responsabilidade recai toda nas costas do empreendedor e não é dividida como no emprego.Marcos Hashimoto
Gestão de Negócios
Mestre em Administração pela EAESP/FGV, sócio-diretor da Lebre Consulting, Professor e Pesquisador da Business School São Paulo, Coordenador da Pós Graduação em Empreendedorismo no Uirapuru Superior, membro do Centro de Empreendedorismo da EAESP/FGV, colunista da Você S/A, foi executivo no Citibank e na Cargill Agrícola. É um dos autores do software de Plano de Negócios SP Plan da parceria Sebrae-SP/Fiesp, parceiro do Instituto Chiavenato, Instituto Empreender Endeavor e Instituto Brasileiro de Intra-Empreendedorismo.
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