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Domingo, 5 de julho de 2015

O Líder deve Executar ou Realizar?

O enorme transatlântico deixou o porto acompanhado por uma nuvem de gaivotas prateadas que atraiu a atenção de todos por causa da algazarra que faziam e pelo capricho de suas voltas ao redor do navio. Passados alguns minutos, o tempo se tornou ameaçador e iniciou-se uma grande tempestade. Um dos tripulantes que permanecia no tombadilho, olhando para as gaivotas lastimou: – Como poderão elas, tão frágeis, lutar contra este tufão? De repente, as pequenas gaivotas se ergueram para acima da tormenta e continuaram a voar calmamente. Muitos líderes estão tão envolvidos com os problemas, detalhes e execução das tarefas do dia a dia, que não têm força para “voar” acima deles e olhar as situações sob pontos de vista mais estratégicos, abrangentes e sistêmicos, e por agirem assim, acabam executando muito, mas realizando quase nada. Por isso, um líder precisa estar disposto a preparar, treinar, formar e empoderar seus liderados para que executem as atividades com excelência, permitindo-se assim um olhar mais tático e estratégico, tanto em relação ao que está sendo executado (atividades e seus resultados), quanto àqueles que executam (pessoas), organizando as ideias, atividades, recursos e pessoas de maneira mais inteligente e eficaz. Além disso, a delegação aumenta o nível de interação e senso de trabalho em equipe, porque faz com que cada pessoa se sinta participante do processo e dos resultados, aumentando, naturalmente, o nível de comprometimento e responsabilidade, já que, em geral, as pessoas se comprometem com aquilo que conhecem e participam. Delegação, contudo, é algo mais fácil de falar do que praticar, porque se não houver vontade, determinação e disciplina por parte do líder, certamente a correria do cotidiano o impedirá de fazê-lo. Também, alguns modelos mentais podem impedir o líder de delegar; pensamentos como: “As pessoas não estão preparadas, por isso não posso delegar tarefas importantes a elas”; “Não tenho tempo para preparar as pessoas, portanto, prefiro fazer eu mesmo”; “Ninguém faz isso tão bem quanto eu, portanto, se eu quero o trabalho bem feito, melhor que eu mesmo faça”; “Se eu der isso para alguém fazer, sei que voltará com problemas, então, eu mesmo faço” e “Ninguém conhece esse processo tão bem quanto eu, então, melhor eu mesmo fazer”. Para vencer estes obstáculos é preciso estabelecer um ponto de ruptura e ressignificação, caso contrário continuaremos fomentando o ciclo do “ovo e da galinha”: “– Eu quero delegar, mas eles não estão prontos. Com isso acabo trabalhando mais do que deveria. Para que eles fiquem prontos eu tenho que dedicar muito tempo preparando-os, e eu não tenho tempo pra isso”. Antes de aprender o jeito certo de delegar, contudo, é preciso decidir delegar pelo motivo certo, pela consciência de que esta é uma das principais formas de ajudar as pessoas de sua equipe em seu crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional. Aqui vão algumas dicas que podem ajudá-lo. Com o tempo, você criará o seu próprio jeito de fazê-lo. ◾Comece fazendo uma lista de suas atividades, e escolha quais delas podem ser delegadas; ◾Tome o cuidado de não usar a delegação como lixeira. Não delegue apenas atividades que não deseja, não gosta e, consequentemente, não quer fazer. Sua equipe certamente perceberá, e isso pode comprometer o processo; ◾Considere o perfil e as habilidades necessárias para a execução do trabalho. Dê preferência a pessoas com talentos naturais para o tipo de trabalho que pretende delegar; ◾Reflita sobre o grau de aceitação que a pessoa que receberá a tarefa tem na equipe e na organização, principalmente quando for um trabalho que demande interação com outras áreas; ◾Esteja certo de que a tarefa pode ser realizada, pois tarefas impossíveis desmotivam; ◾Busque delegar tarefas de forma equilibrada entre todos; ◾Defina clara e detalhadamente o objetivo, a tarefa e os resultados esperados; ◾Esclareça papéis, responsabilidades e limites; ◾Estabeleça prazos e o padrão de qualidade esperado; ◾Treine e prepare a pessoa antes de delegar; ◾Empodere. Conceda a autoridade necessária para a realização do trabalho delegado. Se a cada etapa for necessário que você seja consultado para autorizar uma determinada ação, você e a pessoa que recebeu a tarefa perdem tempo. Ao delegar, dê também autonomia a quem recebe a tarefa; ◾Feita a delegação, crie todas as condições necessárias para que a pessoa realize a tarefa com sucesso. Evite ficar micro gerenciando o que estiver sendo feito, dando palpites o tempo todo. Se a pessoa está preparada, deixe-a fazer o trabalho. Apenas a apoie no que for necessário; ◾Estabeleça pontos de controle. Defina um sistema de acompanhamento para se certificar de que está tudo correndo conforme o esperado, esclarecer dúvidas, e evitar surpresas ao final do processo; ◾Permita e incentive as pessoas a descobrirem maneiras mais eficientes de executar a tarefa. Dê liberdade e autonomia para que o processo seja melhorado, ainda que ele tenha sido criado por você – isso gera autonomia, propriedade, responsabilidade, e motiva a equipe; ◾Reconheça as pessoas e comemore os resultados. Para finalizar, algumas perguntas importantes pra você refletir: ◾O que você está fazendo que poderia ser feito por outra pessoa? ◾O que você está fazendo que só você pode fazer? ◾O que você deveria fazer que não está fazendo? Tudo que você faz bem feito hoje, já foi mal feito um dia e, só é bem feito atualmente porque alguém um dia lhe deu a oportunidade de começar a fazer, portanto, seja justo, não tire essa oportunidade das pessoas à sua volta e, lembre-se: Um líder não precisa executar, mas realizar, e quanto menos ele executar, mais ele realizará.

Marcos Fabossi

Marcos Fabossi Liderança

Marco Fabossi é Conferencista, Escritor, Consultor, Coach Executivo e Coach de Equipe, com foco em Liderança. Sócio-diretor da Crescimentum – Alta Performance em Liderança, que tem como missão: “Construir um mundo melhor, transformando pessoas em líderes.

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