Artigos

Sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O custo do PT no poder

O Brasil vive a pior recessão em 25 anos, com o PIB podendo cair mais de 2% em 2015. O vice-presidente da República, Michel Temer, apela por “reunificação do país”, dizendo que a situação é grave porque “há uma crise política se ensaiando e uma crise econômica que precisa ser ajustada”. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reconhece que a situação fiscal é “séria”.

Vale lembrar que no âmbito das finanças públicas o resultado primário consolidado em junho fechou com déficit de R$ 9,3 bilhões, o pior da série histórica do Banco Central, iniciada em dezembro de 2001.

A situação crítica do Brasil não para por ai e tende a se agravar. Membros do governo admitem que a gestão Dilma perdeu o controle de sua base de sustentação política. Isso fica claro com a recente debandada do PDT, que se declarou independente, e do PTB, cujo líder afirmou que o partido “não votará mais sistematicamente com o governo”.

Em relação ao PT, as investigações da Operação Lava Jato mostram que o partido está atolado até o pescoço nos esquemas de corrupção e seu ex-presidente, José Dirceu, voltou a ser preso pela Polícia Federal.

Ou seja, o partido governista, que já tem seu ex-tesoureiro na prisão, tem de novo atrás das grades um de seus principais líderes. Para coroar essa situação, o Datafolha divulgou levantamento revelando que a gestão Dilma é classificada como ruim ou péssima por 71% dos brasileiros, a pior avaliação de um presidente da República desde o terrível ano de 1990, quando houve o confisco da poupança e o PIB encolheu 4,3%.

O Brasil está mergulhado em um cenário de incertezas que o PT criou com seu projeto obscuro de poder, suas barbeiragens na economia e sua omissão em relação à condução das reformas estruturais.

Erros grotescos foram cometidos em setores estratégicos como, por exemplo, o de energia elétrica. Avanços no campo das finanças públicas, obtido a duras penas, como o regime de superávit primário, foram perdidos com a negligência que tomou conta da política orçamentária.

Na gestão governamental o aparelhamento político ditou as regras na administração direta e também nas estatais, contribuindo para ampliar a corrupção endêmica que assola o país. Além disso, houve o exacerbado intervencionismo estatal, proposto na campanha de 2010 para acelerar o crescimento econômico, e que se efetivou toscamente com forte viés ideológico, e seu efeito foi a elevação do risco para o empreendedor e a redução da expansão média do PIB de 4,5% entre 2004 e 2010 para apenas 1,6% entre 2011 e 2014.

Vivemos uma situação extremamente preocupante e que se configura como uma das maiores crises da história brasileira. Isso acontece com um governo recém-empossado, que por pouco não foi desalojado do poder nas últimas eleições, e cuja capacidade de gestão se deteriorou muito rapidamente. Na prática a administração do PT acabou, mas preocupa o fato do governo ainda ter mais três anos pela frente. O país está desorientado, sem rumo, e não há perspectiva que o quadro mude.

O Brasil não pode seguir sangrando por tanto tempo. Por conta disso, aos poucos ganha força uma alternativa que alguns julgam ser a menos dolorosa para o país que seria o afastamento definitivo de Dilma da presidência.

O fato é que, qualquer que seja a saída, o modo petista de governar nos levou à atual situação e sair dela vai impor um custo social extremamente elevado para colocar novamente a economia nos trilhos e a casa em ordem.

______________________________________________________________________ Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto Único.

www.facebook.com/marcoscintraalbuquerque

Marcos Cintra

Marcos Cintra Opinião Econômica

58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.

veja mais artigos deste colunista