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Quarta-feira, 21 de outubro de 2015
Inúmeros programas se mantêm por inércia sem que ninguém os questione em termos de sua eficácia e eficiência.
Se fossem avaliados a fundo, segundo critérios de análise social de projetos, muitos deles com certeza seriam imediatamente descontinuados.
A manutenção inercial de gastos é um aspecto relacionado ao modelo orçamentário praticado no país, que se baseia no orçamento incremental.
Cria-se uma despesa e depois ela se perpetua ano após ano sem que haja avaliação periódica em termos de seu retorno social.
E vão se adicionando novos programas sem que os que estão vigentes sejam analisados em termos de seus custos e benefícios.
Daí a necessidade de se avaliar a adoção do chamado orçamento base–zero.
Trata-se de uma técnica orçamentária onde anualmente, ao se preparar a proposta de orçamento para o ano seguinte, os programas em andamento seriam avaliados no tocante à sua eficiência e eficácia. Programa que não atendesse essa exigência básica seria extinto.
Vale notar que a adoção de critérios orçamentários semelhantes a este seria inerentemente incompatível com vinculações orçamentárias e combateriam de forma decisiva a rigidez que atualmente inviabiliza no curto prazo qualquer ajuste fiscal pelo lado dos gastos.
A adoção do orçamento base-zero tornaria rotineira a saudável prática de avaliar e identificar programas ou atividades que poderiam ser extintos ou redimensionados, e suas dotações canalizadas, total ou parcialmente, para promover o equilíbrio fiscal, custear outras despesas ou reduzir a dívida pública.
Será que alguém analisa de modo criterioso, por exemplo, os programas do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), cujo orçamento para 2016 supera R$ 75 bilhões, para averiguar se são eficazes?
E os benefícios fiscais (gastos tributários) de R$ 35 bilhões concedidos para as empresas localizadas em áreas classificadas como de desenvolvimento regional, são justificáveis a luz de parâmetros técnicos que possam definir se devem ser mantidos?
Recursos demandados em áreas como a da saúde pública não poderiam ser obtidos com a revisão desses programas?
Simplesmente reduzir número de ministérios, como vem sendo feito, sem acabar com a função orçamentária é mera enganação. Apenas se muda a dotação do gasto sem sua efetiva redução.
Estamos no limite do ônus tributário suportado pelos brasileiros. Cada vez mais a sociedade vai rejeitar aumento de impostos, tornando necessário discutir gastos, mesmo com todas as dificuldades que terão de ser enfrentadas em uma sociedade viciada em subsídios, transferências, rent-seeking e que acalenta uma utópica e interesseira conceituação do papel do setor público na economia.
Nesse cenário o orçamento base-zero é uma inovação que imporia a racionalidade que falta na gestão das contas públicas no Brasil. Além disso, sua adoção seria um importante complemento à Lei de Responsabilidade Fiscal.
______________________________________________________________________ Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto Único.
www.facebook.com/marcoscintraalbuquerque
Lupa nos gastos públicos
Se os gestores das finanças públicas brasileira analisassem os orçamentos com uma lupa para aferir a racionalidade dos gastos eles certamente chegariam à conclusão de que há incontáveis dispêndios injustificáveis.Inúmeros programas se mantêm por inércia sem que ninguém os questione em termos de sua eficácia e eficiência.
Se fossem avaliados a fundo, segundo critérios de análise social de projetos, muitos deles com certeza seriam imediatamente descontinuados.
A manutenção inercial de gastos é um aspecto relacionado ao modelo orçamentário praticado no país, que se baseia no orçamento incremental.
Cria-se uma despesa e depois ela se perpetua ano após ano sem que haja avaliação periódica em termos de seu retorno social.
E vão se adicionando novos programas sem que os que estão vigentes sejam analisados em termos de seus custos e benefícios.
Daí a necessidade de se avaliar a adoção do chamado orçamento base–zero.
Trata-se de uma técnica orçamentária onde anualmente, ao se preparar a proposta de orçamento para o ano seguinte, os programas em andamento seriam avaliados no tocante à sua eficiência e eficácia. Programa que não atendesse essa exigência básica seria extinto.
Vale notar que a adoção de critérios orçamentários semelhantes a este seria inerentemente incompatível com vinculações orçamentárias e combateriam de forma decisiva a rigidez que atualmente inviabiliza no curto prazo qualquer ajuste fiscal pelo lado dos gastos.
A adoção do orçamento base-zero tornaria rotineira a saudável prática de avaliar e identificar programas ou atividades que poderiam ser extintos ou redimensionados, e suas dotações canalizadas, total ou parcialmente, para promover o equilíbrio fiscal, custear outras despesas ou reduzir a dívida pública.
Será que alguém analisa de modo criterioso, por exemplo, os programas do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), cujo orçamento para 2016 supera R$ 75 bilhões, para averiguar se são eficazes?
E os benefícios fiscais (gastos tributários) de R$ 35 bilhões concedidos para as empresas localizadas em áreas classificadas como de desenvolvimento regional, são justificáveis a luz de parâmetros técnicos que possam definir se devem ser mantidos?
Recursos demandados em áreas como a da saúde pública não poderiam ser obtidos com a revisão desses programas?
Simplesmente reduzir número de ministérios, como vem sendo feito, sem acabar com a função orçamentária é mera enganação. Apenas se muda a dotação do gasto sem sua efetiva redução.
Estamos no limite do ônus tributário suportado pelos brasileiros. Cada vez mais a sociedade vai rejeitar aumento de impostos, tornando necessário discutir gastos, mesmo com todas as dificuldades que terão de ser enfrentadas em uma sociedade viciada em subsídios, transferências, rent-seeking e que acalenta uma utópica e interesseira conceituação do papel do setor público na economia.
Nesse cenário o orçamento base-zero é uma inovação que imporia a racionalidade que falta na gestão das contas públicas no Brasil. Além disso, sua adoção seria um importante complemento à Lei de Responsabilidade Fiscal.
______________________________________________________________________ Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto Único.
www.facebook.com/marcoscintraalbuquerque
Marcos Cintra
Opinião Econômica
58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
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