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Segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Atos de Generosidade (Liderança)

Em 1986 eu estava vendo um programa chamado “Negócios Engraçados”, um show sobre cartum. Eu sempre quis ser cartunista, mas não sabia o que fazer. Escrevi para o apresentador do programa, o cartunista Jack Cassady, e pedi seu conselho sobre como começar na profissão.

Algumas semanas depois recebi uma carta de Jack, de próprio punho, encorajando-me e respondendo todas as minhas perguntas sobre o material necessário e também como proceder. Avisou-me da possibilidade de ser recusado no início e aconselhou-me a não ficar desanimado se isso acontecesse. Disse que as charges que eu enviara para ele eram muito boas e mereciam ser publicadas.

Fiquei muito animado e enviei minhas melhores charges às revistas Playboy e The New Yorker. Elas me recusaram de imediato com cartas frias e padronizadas. Desencorajado, coloquei o material de desenho no armário e decidi esquecer o assunto.

Em junho de 1987, inesperadamente, recebi uma segunda carta de Jack Cassady. Era surpreendente, pois eu não havia nem mesmo agradecido o conselho inicial. Aqui está o conteúdo da carta:

“Caro Scott:

Estava revendo os arquivos de correspondência do programa “Negócios Engraçados” quando me deparei novamente com a sua carta e com as cópias das suas charges. Lembro-me de tê-la respondido.

O motivo desta é estimulá-lo uma vez mais a apresentar suas ideias a várias publicações. Espero que já tenha feito isso e esteja a caminho não só de ganhar algum dinheiro, mas também de se divertir. Às vezes é difícil conseguir estímulo no ramo do humor gráfico. É por isso que o estou incentivando a perseverar e continuar desenhando.

Desejo-lhe muita sorte, boas vendas e bons desenhos.

Atenciosamente, Jack”.

Fiquei profundamente comovido pela carta, em grande parte porque Jack não tinha nada a lucrar. Incentivado por ele, tirei meu material de desenho do armário, e fiz as charges que, finalmente, se transformaram em “Dilbert”, hoje publicado em milhares de jornais e revistas em todo o mundo.

Estou certo de que eu não teria tentado novamente se Jack não tivesse me enviado “a segunda carta”. Bastaram uma palavra gentil e um selo de correio para desencadear uma série de acontecimentos que agora chegam até vocês. À medida que “Dilbert” começou a fazer mais sucesso, passei a dar valor à grandeza do simples gesto de generosidade de Jack. Mais tarde lhe agradeci, mas nunca vou me esquecer de que recebi um presente que vai além da reciprocidade.

Com o tempo, compreendi que o objetivo de alguns presentes não é a retribuição. Todos nós conhecemos alguém que pode se beneficiar com uma palavra amável. Eu o estou estimulando a fazer isto. Para um maior impacto, faça-o por escrito. E faça-o sem esperar lucrar algo com isso.

Adaptado do Texto de Scott Adams (criador de “Dilbert”)

“O que as pessoas ganham tendo você como líder? Qual é a vantagem delas em segui-lo(a)? Elas se tornam melhores seres humanos e profissionais por sua causa? Com você elas conseguem ir mais longe do que iriam sozinhas?”.

Quem interage comigo sabe que normalmente utilizo essas perguntas nas palestras, treinamentos e processos de coaching que conduzo. Em geral, as respostas a elas se manifestam em forma de silêncio, olhares reflexivos e lábios comprimidos. E você? O responderia a essas perguntas?

É importante compreendermos que as pessoas apenas seguirão espontaneamente um líder quando tiverem esperança de que este líder as ajudará a alcançar lugares que sozinhas não conseguiriam; alguém que as incentive e ajude a evoluir, crescer e conquistar níveis mais altos de humanidade e profissionalismo; um líder que esteja verdadeiramente interessado nelas como pessoas, e não como simples recursos para conquistar resultados que beneficiem apenas ao próprio líder, à organização e aos acionistas.

É por isso que a liderança se traduz em “Atos de Generosidade”, que começam na doação daquilo que o líder tem de mais precioso: Tempo e Energia, e que se estendem no dia a dia por meio de palavras de apoio e incentivo que impulsionam as pessoas para o alto. Generosidade que vai além da reciprocidade, atitudes altruístas que não esperam nada em troca, senão a consciência de que estamos contribuindo para que os melhores resultados sejam alcançados por meio de pessoas entusiasmadas, engajadas e comprometidas, por se sentirem notadas, respeitadas e valorizadas.

Para o Dr. Adam Grant, professor da University of Pennsylvania, os melhores resultados só podem ser alcançados de forma coletiva, e dependem principalmente de como interagimos com as pessoas à nossa volta. Grant entende que há três tipos de pessoas em relação à forma como interagem profissionalmente: os “takers” (os que tomam), os “matchers” (os que dão em função do que tomam) e os “givers” (os que praticam “Atos de Generosidade“).

Um líder egoista (“taker” ou “matcher”) será ainda mais egoista à medida que conquista mais poder, enquanto um líder generoso (“giver”) usa o seu poder para ser cada vez mais desprendido. Por conta disso, os grandes líderes, que levam suas organizações ao topo, são normalmente “givers” e raramente “takers”.

E então? Você é um “taker”, um “matcher” ou um “giver”?


Marcos Fabossi

Marcos Fabossi Liderança

Marco Fabossi é Conferencista, Escritor, Consultor, Coach Executivo e Coach de Equipe, com foco em Liderança. Sócio-diretor da Crescimentum – Alta Performance em Liderança, que tem como missão: “Construir um mundo melhor, transformando pessoas em líderes.

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