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Quinta-feira, 12 de junho de 2008

Setocol, Semancol e outros fármacos

Se pudéssemos resolver os problemas funcionais de uma empresa com medicamentos, certamente laboratórios, farmácias e drogarias constituiriam mercados altamente lucrativos. Imagine uma farmácia especializada em “remédios organizacionais”. Teríamos à nossa disposição os famosos Setocol e Semancol para pessoas distraídas, medicamentos produzidos há décadas pelo imaginário popular. Poderíamos adquirir remédios específicos para casos de preguicite aguda, como a Estimulatina 500 mg, ou um Ativol intravenoso, bem melhores que os tônicos ou bebidas energéticas (que te dão aaasaaas!).

Para trabalhadores com falta de concentração, dificuldade de aprendizagem em treinamentos, limitações para o cumprimento de suas funções, perda conveniente de memória (do tipo: “Não tenho culpa... esqueci”) e outras disfunções, o melhor seria uma superdosagem de Qualitanol injetável, um complexo de substâncias ativas com ação direta no cérebro do – com o perdão da palavra – doente. O tratamento poderia ser longo e, em caso de insucesso, não haveria outro jeito senão o internamento numa UTI – Unidade de Tratamento Intelectual.

Mas, não sejamos tão catastróficos. Existem distúrbios bem menos intensos. A fofoquite aguda, por exemplo, infecção cerebral causada pelo vírus linguadus venenosus, poderia ser curada com o Lealdadina Positivina, um anti-fuxico que provocaria uma sensação de bem-estar toda vez que um colega proferisse palavras positivas em relação ao outro, ao mesmo tempo em que agiria com alta irritabilidade na língua do usuário mexeriqueiro.

Funcionários que não assumem responsabilidades e vivem redirecionando as broncas dos superiores para outros colegas, poderiam ser tratados com o Chá Kumigu, um produto de origem oriental (como o próprio nome sugere), que realmente transformaria a pessoa infectada pelo vírus non-fuieu-non.

O famoso cordão dos puxa-sacos não ficaria de fora. A marchinha carnavalesca da década de 40, tão difundida pelo saudoso Chacrinha, talvez pudesse ter seu refrão alterado para “Cada vez diminui mais”, com o Equilibratina 36. Esse medicamento também seria indicado para indivíduos com distúrbio da sensatez, mais conhecido como rebeldia-sem-causa. A essência do Equilibratina 36 poderia ser resumida pelo bordão popular “nem oito, nem oitenta” (por isso 36!).

E, para concluir, que tal um remédio eficiente para combater os enrolões de plantão? Os indivíduos com a “síndrome da lisura”, popularmente conhecidos como “bagrões”, são normalmente identificados por sintomas bastante evidentes da doença: quando recebem uma missão, confessam tomar a famigerada droga “pó-de-chá”, dizendo isso a todo o momento... A droga contém um fungo, o lisus patéticus, que provoca cacoetes no indivíduo, sempre que o mesmo é cobrado de alguma conduta, proferindo termos como “Veja bem” ou “Também acho”. A solução seria um longo tratamento com Convictol.

Na verdade, todos temos distúrbios patológicos organizacionais! Falando nisso, se alguém souber de algum remédio para tagarelisse crônica, por favor, me avise. Acho que sofro desse mal...


Edson Ricardo Goulart

Edson Ricardo Goulart Marketing

Administrador e Consultor de Empresas, Publicitário e Palestrante na área de Gestão Empresarial, já prestou serviços de Comunicação, Marketing e Qualidade para empresas de renome como Grupo Lorenzon, Starrett, Grupo Maggi, Cervejaria Schincariol e Grupo Gandini. Atualmente, é consultor de empresas de Tecnologia da Informação, como APP, Dual, Gecont, Informa, Shift, Trans Sat e a associação que reúne os profissionais e as empresas do setor em São José do Rio Preto/SP, a Apeti.

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