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Quinta-feira, 12 de junho de 2008

Menos imposto e mais renda e emprego

No último dia 9 de abril começou a tramitar no Congresso Nacional a PEC 242/08. Quando aprovada, ela será um grande passo para a redução dos impostos sobre os salários no país.

O total de tributos pagos pelos empregados e pelas empresas sobre os rendimentos brutos no Brasil chega em alguns casos a superar 60% do seu valor. A carga tributária média sobre os ganhos do trabalhador brasileiro é de 42,5%, o que deixa o país só atrás da Dinamarca, que extrai 42,9%. Ocorre que naquele país a renda per capita anual é de US$ 52 mil, enquanto que aqui é de US$ 7,5 mil.

O custo dos encargos sociais de um trabalhador para uma empresa no Brasil é em média de 36%, mas quando se adiciona o gasto referente ao pagamento de direitos trabalhistas (13º salário, aviso prévio, abonos, etc) o valor atinge 103%. Ou seja, para cada R$ 1 de salário pago a empresa precisa desembolsar mais R$ 1,03.

Para o trabalhador formal o peso dos tributos sobre seus rendimentos também é dramático. A partir da faixa que é obrigada a recolher o imposto de renda o ônus cresce aceleradamente. Para se ter uma idéia, um salário bruto de R$ 2 mil tem um desconto médio na fonte de R$ 211,40. Já para quem ganha R$ 10 mil os tributos diretos exigidos são de R$ 2.521,00 em média.

Vale citar que quando o trabalhador gasta seu salário tem mais imposto embutido nos preços das mercadorias e serviços que consome. Considerando apenas quatro deles (ICMS, IPI, PIS/Cofins e IPI), um salário de R$ 2 mil gasta mais R$ 470,40 em tributos e um de R$ 10 mil arca com mais R$ 2.008,00 No primeiro caso a carga total (direta mais indireta) supera 34% e no segundo exemplo o ônus é superior a 45%.

A supertributação sobre o trabalho e o consumo é um dos fatores que contribuem para a elevada informalidade e a propagação da evasão tributária. Menos da metade dos trabalhadores brasileiros tem carteira assinada e a sonegação de impostos atinge níveis impressionantes, só no comércio varejista de alimentos ela é de quase 80%.

A absurda carga de tributos imposta sobre a folha de salário das empresas e sobre o trabalhador, e o estímulo à informalidade e à sonegação que essa situação gera, torna a PEC 242/08 um projeto que merece atenção por parte dos parlamentares, do governo e dos sindicatos patronais e dos empregados. Propõe-se o fim dos 20% pagos pelas empresas ao INSS e do imposto de renda das pessoas físicas (IRPF) para salários até R$ 30 mil por mês. Para substituí-los a proposta prevê um tributo sobre as movimentações financeiras com alíquota de 0,5% sobre o débito e de até 0,5% sobre o crédito dos lançamentos nas contas-correntes bancárias. È importante citar que os atuais isentos do IRPF, salários de até R$ 1.372,81, não pagariam o imposto.

O fim dos 20% ao INSS reduziria em mais da metade os encargos sobre os salários pagos pelas empresas e a elevação do limite do IRPF aumentaria a renda disponível dos assalariados com carteira assinada. Seria um estímulo à formalização de empregos, aliviaria o pesado ônus imposto à sofrida classe média brasileira e minimizaria a sonegação.


Marcos Cintra

Marcos Cintra Opinião Econômica

58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.

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