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Sábado, 5 de julho de 2008

Antecedentes nas Teorias Contábeis e Administrativas

A falta de cultura, mesmo de escritores que adquirem alguma influência ou a má fé no campo intelectual tem levado a deformações sobre a verdadeira origem e evolução do conhecimento.

Como a mentira divulgada intensamente acaba por parecer verdade aos menos avisados, interessante se faz contestar algumas referências falaciosas recentemente veiculadas sobre o nascimento da Administração e da Contabilidade como disciplinas científicas, assim como sobre a simbiose entre estas ocorrida.

A utilização dos informes contábeis e até mesmo a explicação e interpretação dos mesmos em bases subjetivas para os gestores de empreendimentos é tão antiga quanto a própria civilização .

Inúmeras são as provas arqueológicas de registros patrimoniais e livros didáticos escritos há mais de dois mil anos evidenciando matéria conceitual sobre fatos relativos à riqueza e a forma de conduzi-la para uma boa administração.

São famosas as cartas de Plínio, o moço (Caio Plínio Cecílio Segundo), a Trajano (setembro de 53 – agosto de 117 da era cristã), imperador da Roma antiga, comentando sobre “como” administrar tendo por base elementos egressos dos registros contábeis.

Embora referências diversas sobre a gestão tenham ocorrido em obras da antiguidade e na Idade Média só no século XIX ilustres autores construíram bases com teor científico para a Contabilidade e a Administração.

A teorização em nível superior, portanto, só iniciou de fato há cerca de pouco mais de um século e meio e quando Taylor e Fayol escreveram as obras que hoje são referidas como pioneiras na realidade sobre o tema já existiam várias outras conquistas intelectuais feitas pelos italianos: Francesco Villa (1840), Giuseppe Cerboni, Giovanni Rossi, Fábio Besta, Carlo Ghidiglia e outros.

Na opinião de ilustres estudiosos como Giannessi, todavia, o maior destaque cabe, dentre todos, a Fábio Besta (em edição de 1891), se analisada a essência da obra administrativa e contábil produzida pelo mesmo .

Os ensaios primeiros, todavia, sobre a matéria são provenientes dos denominados “cameralistas”, dos séculos XVI até o XVIII; mesmo não apresentando doutrinas, ofereceram os referidos contribuições a uma estrutura científica em germinação.

A imperiosa necessidade de gerir as empresas com a proteção de informações de melhor qualidade, procurando conhecer a “essência” sobre os fatos patrimoniais ocorridos precipitou-se com a “revolução industrial” ocorrida na segunda metade do século XVIII, esta que deu impulso ao aumento e a concentração da riqueza.

O ciclo do ouro no Brasil enriqueceu os ingleses, posto que estes fizeram sustentar a expansão econômica a custa de drenar as riquezas que iam ter a Portugal, todavia, as preocupações com a intelectualidade nas áreas contábeis e administrativas foram de natureza acentuadamente latinas.

É equivocado, pois, admitir que a ciência da Administração tivesse nascido no século XX e muito mais absurda ainda a imaginação que a simbiose entre esta e a Contabilidade tivesse sido um acontecimento recente.

O que poderemos creditar à atualidade, depois de considerados os esforços antecedentes das teorias contábeis e administrativas é a sofisticação permitida pelos meios eletrônicos de dados, apoiada com a inequívoca evolução doutrinária científica, como a do Neopatrimonialismo Contábil e a da “Contabilidade para a Gestão” , também referida como “Contabilidade Gerencial”.

A cultura é fruto de sedimentações e é praticar injustiça atribuir a autores de nossa época a “invenção” de uma Administração Científica; o que a estes podemos creditar, sim, é o desenvolvimento do que foi herdado no campo intelectual.


Antônio Lopes de Sá

Antônio Lopes de Sá Experiência profissional e cultural

Doutor em Letras, honoris causa, pela Samuel Benjamin Thomas University, de Londres, Inglaterra, 1999 Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro, 1964. Administrador, Contador e Economista, Consultor, Professor, Cientista e Escritor. Vice Presidente da Academia Nacional de Economia, Prêmio Internacional de Literatura Cientifica, autor de 176 livros e mais de 13.000 artigos editados internacionalmente. www.lopesdesa.com.br.

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