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Terça-feira, 29 de julho de 2008
O Brasil E A Crise Internacional
A crise no mercado hipotecário de alto risco (subprime) nos Estados Unidos completa um ano e as instituições financeiras européias e norte-americanas já acumulam perdas superiores a US$ 330 bilhões. Esse prejuízo terá impacto negativo sobre o crédito ao redor do mundo, sobretudo nos países ricos, e reduziu em mais de 45% o valor das ações de 90 bancos listados em Wall Street entre julho de 2007 e o mesmo mês deste ano.
A crise no mercado imobiliário norte-americano se espalhou por segmentos financeiros ao redor do mundo por conta de práticas financeiras de distribuição de risco. Em vez de manter esses financiamentos em carteira, os bancos nos Estados Unidos repassaram esses créditos para outros agentes.
A crise do subprime tem sua origem em 2000 quando o Federal Reserve (Fed) passou a reduzir os juros nos Estados Unidos e muitos consumidores refinanciaram suas moradia nos bancos. Quando em 2003 os juros começaram a subir a dificuldade das pessoas em honrar seus compromissos surgiu e a inadimplência no mercado foi uma questão de tempo. Ocorre que a grande oferta de recursos reduziu o preço dos imóveis e muitos mutuários endividados desistiram de suas casas. O problema é que o patrimônio recuperado pelo setor bancário valia menos, mas a dívida não foi reduzida.
O temido contágio que o abalo no mercado imobiliário norte-americano pode provocar na economia mundial gera tensão crescente ao redor do planeta. Em um mundo cada vez mais integrado a propagação de uma crise de liquidez nos grandes centros mundiais pode causar estragos imediatos em outras economias.
No Brasil as crises em outras épocas impactaram negativamente e exigiram ajustes internos de grande magnitude, mas hoje o país já não é tão vulnerável. Os fundamentos da economia brasileira encontram-se em situação boa para enfrentar um novo abalo externo.
Uma recessão nos Estados Unidos vai refletir na economia mundial e pode reduzir as perspectivas de crescimento mundial, afinal o país representa mais de um quarto do PIB mundial. O impacto mais significativo para a economia brasileira viria por conta da possível redução das exportações, o que reduziria o saldo comercial do país, mas o setor externo já vem registrando participação negativa no crescimento econômico.
A economia brasileira tem sido impulsionada por fatores internos. O crescimento do consumo das famílias, alavancado pelo aumento da massa salarial e do crédito e pelo Bolsa-Família, e dos investimentos, estimulados pela importação de máquinas e maior volume de recursos para a construção civil, é que sustentam o avanço do PIB. Ademais, a política monetária foi aperfeiçoada com o sistema de metas de inflação a partir do final da década passada; a dívida externa é baixa; e as reservas internacionais, de quase US$ 200 bilhões, são recordes.
A instabilidade econômica mundial deve se prolongar nos próximos anos e a percepção de risco pode crescer caso seja apurado perdas ainda maiores no mercado financeiro internacional. Mas, dessa vez a economia brasileira deve assimilar bem mais essa turbulência do mundo globalizado.
Marcos Cintra
Opinião Econômica
58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
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