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Terça-feira, 2 de dezembro de 2008
A crise mundial e o Brasil
Ao que tudo indica, a turbulência mundial gerada pela escassez de crédito e pela confiança em baixa está longe do fim. Um relatório produzido pelo FMI sugere que o pior da atual crise financeira global ainda está por vir. O documento afirma que o mundo vive “um período de turbulências sem precedentes” e prevê que os bancos em todo mundo continuarão a registrar perdas expressivas.
Os governos e os bancos centrais vêm adotando medidas visando minimizar os efeitos da crise. Há um processo acelerado de injeção de recursos nas economias ao redor do mundo que já soma cerca de US$ 2,3 trilhões, isso sem falar em mais US$ 7 trilhões utilizados até agora para salvar o sistema bancário. Além disso, há um movimento de redução das taxas de juros e medidas fiscais com o objetivo de estimular a demanda interna e gerar capital de giro para as empresas.
As ações adotadas são corretas para minimizar o alastramento da recessão e do desemprego, mas o restabelecimento da confiança no mercado ocorrerá em um período relativamente longo. Isso se deve à expectativa de que por mais que o poder público e os bancos centrais injetem recursos na economia o montante não será suficiente dada a magnitude espantosa dos valores no mercado de derivativos, foco da turbulência atual.
As ações para minimizar os efeitos da crise não poderiam fugir muito do que os países vêm implementando. Mas, a remodelação do sistema econômico mundial será uma das demandas que eles deverão capitanear daqui para frente. A regulamentação do mercado financeiro e a criação de uma instituição voltada para esse fim no âmbito mundial necessariamente terão que ser discutidas.
Quanto aos efeitos da crise mundial na economia brasileira eles serão mais amenos em relação aos abalos ocorridos anteriormente. As autoridades do país afirmam, acertadamente, que os fundamentos econômicos são positivos. Porém alguns sintomas de contaminação da crise se fazem presentes por aqui. Um deles é a decisão das montadoras de veículos em conceder férias coletivas aos seus 47 mil funcionários. Outro sintoma é a fuga de capital financeiro, potencializado pela aversão a risco dos investidores externos, e que não guarda correlação com a performance das empresas brasileiras.
Para evitar um contágio mais sério, o governo brasileiro deve se precaver tomando medidas como a manutenção do juro Selic no atual patamar para que investidores externos vejam a economia nacional como um porto seguro para seus capitais até que a turbulência diminua nas economias ricas. Outra ação seria a concessão de benefícios ao capital financeiro estrangeiro para que ele permaneça no país e ao investidor doméstico para que ele seja estimulado a adquirir ativos como ações e outros. Por fim, já que os bancos privados hesitam em utilizar os adicionais liberados pelos compulsórios na concessão de crédito, os bancos públicos deveriam assumir de modo muito mais agressivo esse papel.
São medidas emergenciais que se justificam frente ao cenário mundial de escassez de liquidez e perda da confiança e que deve provocar uma forte recessão global ao longo de 2009. Elas minimizariam o impacto da turbulência sobre a economia brasileira, preservando, com isso, a produção e milhares de empregos.
Marcos Cintra
Opinião Econômica
58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
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