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Terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Os desafios de Obama

Antes mesmo de tomar posse, o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, se mostra atuante em várias frentes visando enfrentar a maior crise econômica da história daquele país. Segundo ele, “não vai ser rápido e não vai ser fácil sairmos do buraco em que estamos, por isso, não há um minuto a perder”.
O cenário desafiador que Obama tem pela frente é impressionante. O ponto de partida de suas ações só poderia ser a turbulência gerada no mercado imobiliário daquele país, onde os prejuízos já somam, por enquanto, quase US$ 600 bilhões.
O abalo no mercado financeiro norte-americano gerou uma crise de confiança que está sendo sentida de modo intenso na economia real. Em outubro de 2008 o desemprego atingiu 10,1 milhões de pessoas nos Estados Unidos, o nível mais elevado dos últimos dezesseis anos.
No âmbito empresarial a crise acentuou as dificuldades em setores como o automobilístico, que é considerado por Obama como “a coluna dorsal da manufatura nos Estados Unidos”. Montadoras como a GM, Ford e Chrysler reivindicam uma ajuda emergencial de US$ 34 bilhões para sobreviverem ao declínio econômico.
Durante os últimos anos os bancos e financeiras dos Estados Unidos aumentaram demasiadamente o volume de crédito imobiliário para pessoas com pouca ou nenhuma condição de arcar com essas obrigações. Hoje, com a explosão da inadimplência, estão sendo leiloados 770 mil imóveis. Moradores são despejados e suas casas têm as portas lacradas. Obama terá que encarar essa situação dramática que atinge mutuários e bancos.
Não são apenas os aspectos relacionados à crise imobiliária e à recessão iminente que esperam por ações do governo de Obama. Os Estados Unidos têm atualmente uma dívida pública de quase US$ 11 trilhões e o déficit do governo federal deve chegar a US$ 410 bilhões neste ano e ultrapassar US$ 490 bilhões em 2009. Quanto ao comércio exterior, o déficit em 2007 foi superior a US$ 700 bilhões e em 2008 as projeções apontam para um saldo negativo em torno de US$ 713 bilhões.
Além de ter que encaminhar soluções relacionadas à crise econômica e aos rombos externo e fiscal, o governo que toma posse em janeiro nos Estados Unidos terá ainda outros desafios pela frente. Há a expectativa do barril do petróleo sair, em médio prazo, do atual patamar de US$ 60 para US$ 100, o que faria as despesas com a importação do produto saltar de US$ 274 bilhões por ano para cerca de US$ 500 bilhões.
Para tornar o quadro ainda mais dramático cabe lembrar a questão da guerra no Iraque, cujos orçamentos iniciais eram de cerca de US$ 50 bilhões, mas um estudo revela que os gastos totais podem alcançar US$ 2 trilhões.
A maior economia do planeta registra problemas financeiros que impressionam por conta se seus valores e alguns deles estão resumidos neste texto. O presidente eleito sabe que terá um conjunto de temas extremamente espinhosos. Muitas de suas ações vão desagradar não apenas aos norte-americanos, mas também outros povos serão afetados, como nós brasileiros que podemos sofrer com medidas protecionistas.
Devemos torcer pelo sucesso de Obama, mas tempos difíceis virão por aí.

Marcos Cintra

Marcos Cintra Opinião Econômica

58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.

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