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Segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Desafio aos derrotistas e ufanistas
Muito se fala sobre a crise mundial, mas poucos se dedicam a analisar seus desdobramentos ao longo dos próximos meses. O debate atual mais parece uma pendenga entre torcidas organizadas.
De um lado estão os derrotistas, tentando mostrar que a crise já atingiu a economia, que será inevitavelmente sugada pela recessão nos países desenvolvidos. E de outro os ufanistas, mostrando que há um descolamento das economias emergentes como o Brasil, e que, portanto, a crise será apenas uma desaceleração no forte ritmo de crescimento recente. E nessa briga de rua, poucos discutem como será a economia mundial que emergirá.
A turbulência financeira que teve início em meados do ano passado atingiu seu ápice nos terríveis meses de setembro e outubro de 2008. Um ano, portanto, após seu início, a crise se avolumou e se espalhou de tal forma que semeou pânico ao redor do mundo.
A integração dos mercados mundiais e os desconhecidos e misteriosos instrumentos financeiros criados ao longo das últimas décadas fizeram um trabalho perfeito de quase completa destruição da credibilidade dos agentes nas instituições.
A preferência pela liquidez tornou-se irracional, jogando por terra qualquer análise objetiva dos conceitos que deveriam ser determinantes para a formação de preços de ativos financeiros.
Felizmente, tudo indica que esse tempo passou, apesar de deixar um rastro de destruição de valores por todo o espaço econômico mundial.
Cabe agora juntar os cacos e avaliar o que o futuro nos reserva.
Mas o pior será o rescaldo do atual quadro econômico. Por isso, lanço um desafio aos ufanistas e derrotistas para que eles apresentem, como contribuição efetiva ao debate, respostas aos seguintes questionamentos:
Como o mundo irá drenar a crescente liquidez que alaga os mercados mundiais? Como evitar as pressões inflacionárias que poderão surgir se nada for feito?
Como refluir os capitais públicos que invadiram os “board rooms” das empresas em todo o mundo?
Como evitar que a indispensável intervenção estatal seja confundida com a estatização da gestão e com o ultrapassado método de produção centralizada?
Como reconquistar credibilidade para o mercado e permitir que ele continue agindo como o melhor mecanismo gerador de riqueza já utilizado pela humanidade?
Como administrar o endividamento público e evitar o crescimento da carga tributária?
Como avaliar as conseqüências do forte realinhamento das taxas de câmbio?
Qual será o comportamento do dólar após o pânico que o transformou em porto seguro para os investidores inseguros?
Que blindagens contra futuras crises serão erigidas e que restrições ao crescimento econômico elas poderão implicar?
Como será a economia norte-americana após esse tsunami financeiro?
Sugiro que esses temas sejam analisados, pois o futuro será emocionante.
Marcos Cintra
Opinião Econômica
58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
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