Artigos

Quarta-feira, 29 de abril de 2009

A economia em 2009

O ajuste da economia brasileira em função da crise global foi mais drástico do que o esperado por conta do ambiente negativo criado internamente. Houve uma retração muito acentuada da atividade produtiva por causa do clima excessivamente ruim criado na economia nacional e isto contribuiu para a perda de quase 800 mil postos de trabalho formal entre novembro do ano passado e janeiro deste ano.

A partir de fevereiro o emprego formal começou a se recuperar e deve seguir uma trajetória positiva em 2009, ainda que num ritmo que não irá compensar o número de vagas formais eliminadas entre novembro e janeiro. Em fevereiro e março foram abertos 44 mil novos postos de trabalho no país.

Os efeitos da crise sobre os países ricos estão sendo mais drásticos comparativamente ao que ocorre no Brasil. Felizmente os fundamentos da economia brasileira estão numa situação que nos permite afirmar que o país pode se recuperar num período relativamente curto e ser uma das primeiras economias a se recuperar da turbulência mundial. As contas externas estão em ordem, as reservas internacionais em torno de US$ 200 bilhões são adequadas e a inflação está sob controle.

No âmbito das finanças públicas a arrecadação federal caiu 6% e as despesas devem subir por conta dos gastos de natureza anticíclica, combinação que reduzirá o superávit primário. Mesmo com a menor despesa com juros, decorrentes da queda da Selic, o comportamento da dívida pública requer atenção especial porque sua elevação em relação ao PIB pode gerar inquietação no mercado. A redução da relação dívida pública/PIB foi um dos pontos positivos da gestão financeira e seu controle precisa ser preservado.

O crescimento em 2009 deve cair bastante em relação ao que vinha ocorrendo nos últimos anos por causa da retração no comércio externo, do aumento do contingente de desempregados, das dificuldades dos tomadores de empréstimos em obter algumas linhas de crédito e dos juros mais altos. A retração no consumo em segmentos de bens duráveis e a precaução do empresariado na implementação de investimentos vão reduzir o ritmo da expansão do PIB, ainda que o governo esteja tomando medidas para compensar este quadro. Mas, as ações anticíclicas do poder público não serão suficientes para gerar um nível de crescimento próximo de 1% neste ano.

O governo vem atuando de modo correto na implementação de medidas que atenuam os efeitos da crise global. Elas vão amenizar parte da retração do setor privado e em 2009 a expansão da economia deve permanecer em torno de 0%, o que já seria bom comparativamente com o quadro de recessão nos países ricos.

A redução do compulsório, as desonerações tributárias, a criação de um ousado programa habitacional e a ampliação do crédito nos bancos públicos foram ações importantes para amortecer a retração do PIB. O desafio agora será fazer com que a confiança seja restabelecida e os agentes econômicos consumam e invistam mais. A recuperação da credibilidade é condição fundamental para que isto ocorra e faça a economia retomar o ritmo de crescimento de 4,5% ao ano verificado entre 2004 e 2007.


Marcos Cintra

Marcos Cintra Opinião Econômica

58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.

veja mais artigos deste colunista