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Segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Tudo “ok” em casa.

Notícia que há muito vem ocupando lugar de destaque junto à imprensa, diz respeito à catástrofe que acometeu o Haiti. Diante daquele quadro “dantesco”, quer a sociedade civil, senão os governos de muitos países, vêm se mobilizando para auxiliar as vítimas do terremoto. Diariamente os jornais noticiam pessoas doando alimentos, vestuários, remédios, etc. Recentemente, programa de televisão entrevistou um casal de brasileiros que demonstrou interesse em adotar uma criança órfã (inclusive, mostrando que o quarto já se encontrava pronto para receber o infante). A razão de meus rabiscos, é abordar algo que vem me intrigando (sempre respeitando os entendimentos em contrário).
                                              Antecipo desde já que, a meu ver, é obrigação, especialmente dos países ricos e desenvolvidos, o envio de ajuda humanitária (especialmente financeira), pois, se para “acabar com o terrorismo” foram gastos milhões de dólares no Afeganistão e no Iraque, o que significam outros milhares aos haitianos?
 
                                              Por outro lado, o Brasil vem sofrendo com uma estação de chuvas que ultrapassa qualquer previsão meteorológica. Diariamente noticiam-se enchentes, desabamentos, casas invadidas por rios e córregos transbordados, senão ainda o desmoronamento de morros e encostas, semelhante ao que vitimou várias pessoas em Angra dos Reis/RJ. A consequência disso tudo são famílias desabrigadas, sem ter o que comer, sem ter o que vestir, ou ainda, a morte de algum parente (senão a família toda).
                                              Ademais, o Brasil não é um país em que a assistência aos menos favorecidos prima pela excelência (tanto é verdade que a chefe da Casa Civil, acometida pelo câncer, ao invés de enfrentar a “fila do sus”, entendeu por bem se tratar em estabelecimento hospitalar de excelência). Com certa e infeliz rotina, noticiam-se pessoas doentes que não conseguem atendimento médico adequado, e quando são atendidas, não dispõe de numerário suficiente para o tratamento (remédios, etc.).
                                              Longas são as filas defronte aos postos do INSS, de segurados (que de seguros não tem nada), quase que implorando para que o governo devolva aquilo que recebeu, concedendo a eles justa e merecida aposentadoria, ou ainda, por conta de acidente do trabalho, benefício para que possam continuar sobrevivendo.
                                              Recentemente, o Presidente da República promulgou lei no intuito de acelerar as adoções no Brasil, tendo em vista o grande número de crianças que não podem contar com uma família, cumulada com a burocracia (prática que infesta quase que a totalidade do serviço público brasileiro) que atrasa o andamento dos processos de adoção.
                                              Parte (significativa) da população brasileira, em virtude da carência, não tem condições de realizar 3 refeições diárias, vindo a comprometer o desenvolvimento das crianças que integram as famílias.
                                              Pois bem, tendo em vista o acima relatado, pode-se concluir que o Brasil não é um país que prima pelo atendimento à população mais carente, na maioria das vezes, sob a alegação da ausência de recursos financeiros.
                                              Ora, resta uma indagação: por qual razão faltam recursos para atender os, plagiando um antigo presidente, “descamisados”, mas não faltam para abastecer os “mensaleiros”, “sanguessugas”, senão tantos outros escândalos que mensalmente estampam os jornais? Longe de criticar exclusivamente o atual governo, mas sim, criticar todos aqueles (independente de ideologia partidária) que se utilizam do cargo, “das meias” e “das cuecas” para desviar dinheiro público que deveria ser utilizado na construção de salas de aula, leitos hospitalares, compra de remédios, compra de comida, etc.
                                              Será que todo cidadão brasileiro tem roupa para vestir? Será que toda a criança deste país tem uma família para lhe atender? Será que todo brasileiro, ao ficar doente, recebe tratamento médico adequado?
                                              Será ainda que, ao invés de direcionar os alimentos, roupas, remédios, etc., para os desabrigados do Haiti (estes que devem sim ser atendidos), o povo não deveria, antes de tudo, “olhar para o lado”, e ver que em sua própria comunidade existem pessoas necessitadas, como no Haiti? Notar que existem “vizinhos” sem ter o que comer, como no Haiti? Ver ainda que existem pessoas morrendo por falta de atendimento médico, como no Haiti? Ver também que existem crianças morando em orfanatos, e com o futuro comprometido, como no Haiti?
                                              Ora, doar algo para os desabrigados do Haiti tem maior valor, se comparado a alguém que necessita de semelhante auxílio, contudo, residente em nosso bairro?
                                              Adotar uma criança haitiana que perdeu seus pais no terremoto “vale mais”, se comparada a um brasileiro que perdeu seus genitores, por exemplo, em virtude do tráfico de drogas, ou ainda, em acidente de trânsito?
                                              Assim, claro que a ajuda humanitária ao Haiti é necessária, todavia, não se pode esquecer a carência que acomete grande parcela do povo brasileiro que, semelhante aos haitianos, também morrem de fome, por falta de atendimento médico, por falta de infra-estrutura básica, vitimados por alagamentos e enchentes...
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Fábio Cenci

Fábio Cenci Direito do Consumidor

Advogado especialista em Direito Bancário, pós-graduando em Direito Processual Civil e sócio do escritório Cenci Advogados. CENCI ADVOGADOS Rua Cafelândia, 344, Vila Trujillo - Sorocaba/SP - Tel/fax: (15) 3233-6741 / 3231-1805. E-mail: fabiocenci@cenciadvogados.adv.br

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