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Quarta-feira, 21 de abril de 2010
Impostos, despesas públicas e desenvolvimento
O presidente Lula se empolgou com o êxito das intervenções do governo no combate à crise global de 2008 a ponto de afirmar que um Estado grande e forte é necessário para a promoção do desenvolvimento econômico. Para justificar tal ideia chegou a dizer que vários países têm carga tributária tão ou mais elevada que a brasileira. Sua candidata à presidência, Dilma Roussef, adotou a mesma postura e fala em “implantar um Estado forte para instalar um novo desenvolvimentismo no país”.
Primeiramente, cabe citar que muitos países que tributam como o Brasil, cerca de 35% do PIB, têm renda per capita anual da ordem de US$ 40 mil, enquanto que a brasileira é de US$ 7 mil. Nas economias com renda per capita próxima à brasileira, como é o caso de países como Argentina, Chile, Rússia e México, a carga de impostos vai de 17% a 24% do PIB. Como se vê, o peso dos tributos para os brasileiros é amplamente desproporcional à sua renda.
Outro aspecto é que em economias onde a carga tributária é igual ou superior à brasileira, como é o caso de países como Alemanha e Reino Unido, a contrapartida em termos da oferta de serviços públicos é incomparável com a verificada no Brasil. Naqueles países o ônus é alto, mas há qualidade em áreas como, por exemplo, saúde e educação. Já no caso brasileiro o cidadão da classe média arca com um custo tributário absurdo, mas se quiser ter um modo de vida digno tem que colocar a mão no bolso e pagar plano de saúde e ensino particular. Cabe citar que países como os Estados Unidos, Japão e Coréia do Sul impõem carga de impostos sobre seus contribuintes em torno de 27% do PIB (oito pontos percentuais abaixo da brasileira), mas provêm serviços públicos de qualidade satisfatória.
Os discursos de Lula e Dilma podem sinalizar elevação de tributos e despesas públicas no futuro. Porém, as estatísticas e pesquisas recentes demonstram que o corte de gasto público acompanhado de redução de imposto é mais eficiente do que aumento de despesa como política indutora de crescimento. Para fazer o motor do crescimento pegar no tranco é mais indicado cortar impostos do que aumentar gastos, é melhor reduzir o tamanho do estado do que reprimir o setor privado.
Análise de 91 casos de expansão fiscal em países da OCDE mostra que as economias que alcançaram sucesso foram os que cortaram gastos e as que fracassaram foram as que aumentaram despesas. Em resumo, como afirma os economistas Olivier Blanchard, do FMI, e Roberto Perrotti, da Universidade Bocconi, “aumentos simultâneos de impostos e de gastos públicos causam forte efeito negativo nos investimentos privados”.
O argumento do PT de que o Estado tem ser grande e forte para a promoção do desenvolvimento econômico é descabido quando isto implica em mais despesa e tributo. A recente ação do poder público para combater a crise foi um ato corretivo. Afirmar que o elevado ônus tributário é necessário para o país crescer e promover o bem-estar não encontra respaldo na moderna ciência econômica.
Marcos Cintra
Opinião Econômica
58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
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