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Quarta-feira, 16 de junho de 2010

Patriota, pero no mucho.

Os meses de junho e julho serão marcados pela tão esperada copa do mundo de futebol, um dos maiores eventos esportivos do planeta, comparado somente com as olimpíadas. O Brasil literalmente pára em dias de jogo da seleção, serviços públicos essenciais atendem em regime especial, o poder judiciário interrompe suas atividades, carros são adornados com a bandeira nacional, o verde e amarelo se torna moda em todas as classes sociais. Será esta uma manifestação de amor à pátria? De patriotismo do povo brasileiro?
                                              Patriota, para o Dicionário Eletrônico Aurélio é aquela pessoa que ama a pátria e procura servi-la.
                                              Pois bem, pode-se considerar patriota o cidadão que, durante a copa, pinta a rua em que mora, estende bandeira em sua residência, enfeita seu veículo com o pavilhão nacional?
                                              Qualquer forma de externar respeito ao país em que se vive, senão, amor à bandeira nacional é válido, contudo, tal respeito e amor deveriam ir muito além de torcer para a seleção de futebol, senão, para que o César Cielo bata novamente o recorde mundial nos 50 metros nado livre, ou ainda, que o Bernardinho possa, novamente, tornar a seleção masculina de vôlei a primeira no ranking mundial.
                                              O ano de 2010, para o brasileiro, além de ser agraciado com a copa do mundo, também será marcado por outro evento, qual seja, as eleições. Será eleito o novo presidente (ou presidenta, visto existirem duas candidatas), será renovado 2/3 do senado federal, e ainda, serão eleitos novos deputados federais e estaduais.
                                              Ora, para o brasileiro, o que é mais relevante: A copa do mundo ou as eleições?
                                              É assunto recorrente em qualquer roda de amigos (atualmente até entre as amigas), a convocação do Dunga, o esquema de jogo, a escalação, se o Kaká será o líder do time dentro de campo, se o técnico acertou (ou não) em deixar de fora da convocação o Ganso, Neymar, Adriano, Ronaldinho Gaúcho. Recentemente a imprensa (que há quatro anos reclamava que o Ronaldinho Gaúcho não era meia-atacante, e sim atacante, contudo, atualmente condena o Dunga por não convocá-lo para a reserva do meia-atacante Kaká) deu relevância à discussão ocorrida em disputa de bola entre dois jogadores, como se a discussão (às vezes mais áspera) dentro de campo não fosse algo corriqueiro no futebol.
                                              Se um astro da seleção brasileira é flagrado em alguma noitada, ou ainda, com alguma nova namorada, automaticamente estampa a capa de jornais e revistas, claro, de forma negativa (o que digam Romário´s e Ronaldo´s da vida).
                                              Pois bem, se é vedado ao povo interferir na escalação da seleção brasileira de futebol, por outro lado, outra escalação, a meu ver, muito mais relevante, independe da CBF, senão do Dunga, ou de qualquer outra pessoa. É responsabilidade exclusiva de cada cidadão: i) escalar o novo presidente ou presidenta da república; ii) escalar os senadores e deputados (federais e estaduais).
                                              Engraçado (para não dizer trágico), que a mesma preocupação, senão fiscalização, não é empregada pelo povo brasileiro às pessoas eleitas para conduzir os interesses da nação, visto que, as pessoas eleitas devem, antes de qualquer outra coisa, respeitar o bem comum.
                                              Recentemente um programa de televisão, visando provar a forma “séria” pela qual alguns deputados federais exercem suas atividades (repita-se, ALGUNS, pois a generalização é o primeiro passo para a injustiça), colocou uma moça muito bonita nos corredores da assembléia legislativa em Brasília, solicitando a assinatura dos parlamentares em mais uma emenda à Constituição da República. Tal projeto visava à inclusão de um litro de cachaça na cesta básica do brasileiro (vale dizer que o deputado que propunha relatada emenda também era fictício).
                                              Para a surpresa, muitos deputados, abordados pela bela senhorita, de pronto assinavam o requerimento, contudo, metros à frente, ao serem indagados pela repórter, demonstram desconhecer por completo o conteúdo do texto na qual haviam assinado (alguns enrolaram, outros saíram correndo, outros se calaram, outros reconheceram o erro e disseram que voltariam para retificar o equívoco). Dos entrevistados, somente um não assinou o documento, pois afirmou ter lido o conteúdo e, por discordar, não externou seu apoio (prova de que a generalização promove a injustiça).
                                              Mas, “para surpresa geral da nação”, um deles agrediu fisicamente o câmera, vindo a danificar a aparelhagem. Na sequência, repreendido pela repórter, o Ilustre Parlamentar (representante do povo) respondeu a ela com um ensurdecedor palavrão (em respeito ao leitor, ele não será escrito).
                                              Pois bem, o que é pior: o Dunga escalar 4 volantes, ou termos como representante do povo pessoa com conduta semelhante à acima relatada?
                                              Ora, se o Brasil perder a Copa, quais as conseqüências, além da possibilidade do Kaká não renovar seu contrato com o Real Madrid, ou ainda o Robinho ter que retornar e permanecer no Manchester City?
                                              Pode-se afirmar que o voto se assemelha a entrega de um cheque assinado em branco por cada cidadão, visto que, o eleito irá gerir os recursos arrecadados pelo poder público.
                                              O que é mais importante: os 23 convocados pelo Dunga, ou o exercício do voto consciente, motivado pelos projetos apresentados pelos candidatos, pela seriedade no trato com o dinheiro público, com o comprometimento com o bem comum?
 
Fábio Cenci, advogado, sócio do escritório Cenci Advogados, pós-graduado em direito processual civil, Vice-presidente da 24ª. Subseção OAB/SP (Sorocaba): fabiocenci@cenciadvogados.adv.br

Fábio Cenci

Fábio Cenci Direito do Consumidor

Advogado especialista em Direito Bancário, pós-graduando em Direito Processual Civil e sócio do escritório Cenci Advogados. CENCI ADVOGADOS Rua Cafelândia, 344, Vila Trujillo - Sorocaba/SP - Tel/fax: (15) 3233-6741 / 3231-1805. E-mail: fabiocenci@cenciadvogados.adv.br

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