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Terça-feira, 6 de julho de 2010

Saiba como usar um plano de negócios

O plano de negócios se tornou uma ferramenta bastante popular entre médios empresários que desejam re-estruturar seus negócios para alçar novas etapas no seu crescimento e desenvolvimento. Todos hoje falam que é necessário um plano de negócios para expandir as operações. Virou um clichê que, na prática, muito se fala e pouco se usa. A verdade é que poucos sabem como elaborar e como usar um plano de negócios.
 
Em primeiro lugar, para que serve um Plano de Negócios? O arquiteto desenha o seu projeto no papel, faz testes de alternativas, simula com a ajuda de vários tipos de software as projeções sobre as variações do terreno, as possibilidades de fachadas e circulação, as simulações de luz, sombra e vento em diversas épocas do ano, e tudo o mais que ele pode vislumbrar no papel antes de executar. Da mesma forma um pesquisador também faz uma série de pesquisas e testes em laboratório. Errar no papel no processo de pesquisa e aprendizado é muito mais barato do que errar com protótipos reais. Assim é o Plano de Negócios para o empreendedor, uma forma de testar uma idéia de negócio no papel, um guia para garantir que o empreendedor não tenha se esquecido de questões importantes e estratégicas que farão a diferença no seu negócio. O Plano de Negócios serve como um documento que consolida o modelo de negócios proposto sob todos os aspectos: financeiros, mercadológicos, operacionais, estratégicos e estruturais, de forma a integrar os diferentes elementos que envolvem a abertura de um novo negócio sob uma visão holística e abrangente.
 
Uma pergunta bastante recorrente que fazem em minhas palestras sobre o assunto é: Porque o Plano de Negócios só se tornou popular agora se negócios existem desde sempre? Bem, em primeiro lugar, o conceito não é novo, simplesmente se popularizou com a onda das ‘ponto com’, empresas de Internet há dez anos. Em segundo lugar, o ambiente empresarial se tornou extremamente dinâmico e competitivo de duas décadas para cá. Hoje, cometer erros não necessariamente representa apenas mais um aprendizado da vida de uma empresa, muitos erros podem ser fatais. Com ferramentas apropriadas o empreendedor minimiza suas chances de erro e, conseqüentemente seus riscos de fracasso. Por último, grandes empresas que conhecemos hoje possuem empreendedores com grande visão de negócios. Nem todos nós possuímos estas características, não temos a habilidade natural de formar relações importantes, não somos criativos e inovadores, não temos aquele famoso ‘faro para um bom negócio’. Uma forma de compensar estas carências é através do profissionalismo e racionalismo que o Plano de Negócios propõe. Um documento bem feito nos força a aprender alguns fundamentos de administração geral que poucos empreendedores possuem.
 
Mas um plano de negócios não representa a panacéia universal. Não quer dizer que uma vez escrito o Plano de Negócios tudo vai dar certo na vida do empreendedor. De nada adianta escrever um bom Plano de Negócios se o empreendedor não tiver a capacidade de executar o que foi planejado. Um bom Plano de Negócios é inútil se ele não souber conquistar o apoio necessário, seja de clientes, fornecedores, parceiros, investidores ou governo. O Plano de Negócios não serve para nada se não forem previstas alternativas de ação para as dificuldades operacionais que surgirão, sobretudo as variáveis que não estão previstas no próprio Plano, mesmo porque, nenhum plano consegue prever tudo. O Plano de Negócios, portanto, nada mais é que uma ferramenta, que deve ser utilizada apropriadamente para atingir os objetivos propostos.
 
Quanto à sua utilidade, em primeiro lugar o Plano de Negócios deve ser usado para testar a viabilidade de uma idéia, de uso interno, que consolida todas as informações que o empreendedor e sua equipe conseguem coletar sobre o negócio. Este documento não tem limite de tamanho e serve como grande repositório de dados e informações. Neste documento, o empreendedor pode colocar tudo o que levantou sobre o negócio, mercado, operações, etc, de forma aberta, mas organizada. A concentração de todas as informações ajudam o empreendedor a ter uma idéia geral do negócio, de uma forma integrada e ampla, facilitando a compreensão de todos os componentes que podem representar riscos para o negócio, de forma que o empreendedor possa antecipar-se para lidar com estas condições da melhor forma possível.
 
Outra forma de usar o plano de negócios é para obter recursos. Desde recursos financeiros até recursos humanos, o plano de negócios serve como ferramenta de venda da idéia de negócio para um público formado por futuros parceiros, investidores, especialistas, etc. Neste caso, o plano de negócios é um documento externo, com conteúdo distinto, onde a forma de se colocar as coisas é diferente, a preocupação está muito mais no leitor do que no negócio em si.
 
Para quem não tem domínio de técnicas de gestão sente dificuldades em escrever um plano de negócios. Quem for escrever um plano de negócios deve saber quais informações são relevantes no documento, distinguindo quanto de espaço dedica para dar as especificações técnicas do produto quando o leitor é um investidor e não um técnico; e quanto deve explicar sobre os indicadores de rentabilidade, VPL, TIR, quando quiser usar o documento para contratar um pesquisador-chave que não conhece nada de análise de investimento ao invés de apresentá-lo a um banco.
 
Ele pode querer fazer um plano completo e abrangente. Vai levar muito mais tempo e o documento perderá em concisão. Se no final, for produzida uma ‘bíblia’ de 200 páginas, quem vai lê-lo? Ele pode escrever que o local de instalação do negócio já passou pela vistoria do corpo de bombeiros e esquecer de colocar que o produto possui uma característica única que o diferencia dos similares da concorrência. É uma decisão sobre o conteúdo que cabe à capacidade de discernimento do empreendedor.
 
Por fim, o plano de negócios também pode ser utilizado como base para o empreendedor fazer o seu planejamento. Deste documento, podem surgir os orçamentos, os cronogramas, os planos táticos e operacionais, as listas de atividades e responsabilidades, as metas e objetivos, o uso dos recursos e as alternativas de ação. Neste caso, o plano de negócios se converte em algo prático e operacional, uma lista de atividades que será usada pela equipe de implantação do negócio.
 
Estes são os três ‘C’s do Plano de negócios: Conceber uma ideia, Convencer alguém e Controlar a execução. Por isso é fundamental fazer um bom plano de negócios, detalhado o suficiente para que possa servir a diversos propósitos.

Marcos Hashimoto

Marcos Hashimoto Gestão de Negócios

Mestre em Administração pela EAESP/FGV, sócio-diretor da Lebre Consulting, Professor e Pesquisador da Business School São Paulo, Coordenador da Pós Graduação em Empreendedorismo no Uirapuru Superior, membro do Centro de Empreendedorismo da EAESP/FGV, colunista da Você S/A, foi executivo no Citibank e na Cargill Agrícola. É um dos autores do software de Plano de Negócios SP Plan da parceria Sebrae-SP/Fiesp, parceiro do Instituto Chiavenato, Instituto Empreender Endeavor e Instituto Brasileiro de Intra-Empreendedorismo.

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