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Quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Vergonha

O Brasil vive um momento onde toda semana surge a expectativa de um fato novo mostrando como os impostos vão para o ralo por conta da corrupção impregnada na administração pública. Superfaturamento de obras e serviços, tráfico de influência, fraudes em licitações e outras maracutaias viraram uma triste rotina no País. O contribuinte brasileiro se sente impotente frente à roubalheira e fica indignado com a impunidade que beneficia políticos e servidores inescrupulosos que sorrateiramente tiram recursos de hospitais, escolas, rodovias, segurança, etc.
A corrupção e a impunidade envergonham o Brasil no cenário mundial. Quando um membro da quadrilha que assalta os cofres públicos é flagrado cometendo delito o que tem acontecido na maioria dos casos é a simples perda do cargo que ele ocupa na administração pública. Tenta-se passar a impressão que dessa forma está tudo resolvido, mas os corruptos e seus cúmplices seguem com o patrimônio que acumularam com o dinheiro desviado e políticos continuam ocupando cargos eletivos ou exercendo poderes paralelos porque ainda têm influência em postos-chaves no governo.
O Brasil perdeu uma oportunidade de iniciar uma grande faxina com o caso do mensalão, um ícone da picaretagem na administração pública brasileira. Uma reforma política radical poderia ter sido deflagrada naquela ocasião para começar a eliminar políticos corruptos do meio público e nada foi feito. Mais uma vez a impunidade prevaleceu, fomentando a corrupção endêmica que contamina o País. Muitos dos protagonistas daquela rapinagem de verbas governamentais continuam exercendo seus poderes, tendo cargo no governo ou não, como se nada tivesse acontecido.
É revoltante para o trabalhador brasileiro ver que políticos e servidores públicos se apropriam sordidamente de parte de seu esforço. A roubalheira no País prolifera espantosamente e a reforma política poderia ser um ponto de partida para coibir a corrupção.
A reforma política deve ser capaz de contribuir para moralizar a administração pública brasileira. Ela precisa “desprofissionalizar” a política e desmantelar as organizações criminosas incrustadas no governo. O processo deveria começar proibindo que parlamentares ocupem cargos executivos; precisaria reduzir drasticamente o número de servidores em cargos em comissão, o que formaria um corpo técnico estável no governo; e determinar que, caso fique comprovado que parlamentar indicou servidor para qualquer cargo executivo, ele perderia sumariamente seu mandato.
É imprescindível moralizar a máquina pública brasileira em todos os níveis. É preciso remodelar os parâmetros comportamentais da classe política do País. Um cargo eletivo deveria ser uma contribuição que todo cidadão oferece temporariamente à coletividade, e jamais deveria ser transformado em atividade profissional, e nem substituir os meios de sobrevivência individual das pessoas envolvidas. Um político que tenha perdido sua condição de sustentação no setor privado, que tenha se afastado de sua profissão e que passe a depender da política para sua manutenção, torna-se capaz de tudo e de qualquer coisa para sobreviver.
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Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.

Marcos Cintra

Marcos Cintra Opinião Econômica

58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.

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