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Quinta-feira, 5 de julho de 2012
Esgotamento de um modelo
A crise de 2008 derrubou economias que representam metade da produção mundial. Nos Estados Unidos o crescimento anual médio do PIB caiu de 2,8% entre 2004 e 2007 para 0,2% nos quatro anos seguintes. No mesmo período de comparação, a União Européia passou de um crescimento médio de 2,6% ao ano para uma retração de 0,2% ao ano.
A economia brasileira também sentiu os efeitos da crise mundial. O PIB que crescia em média 4,7% ao ano entre 2004 e 2007 teve essa expansão reduzida para 3,8% entre 2008 e 2011. Em relação a outros países pode-se dizer que o País conduziu bem sua política econômica no sentido de imunizá-la da turbulência.
Dentre os fatores que contribuíram para minimizar os efeitos da crise global o destaque fica para o consumo das famílias, cuja contribuição para o crescimento da economia saiu de 3% em média entre 2004 e 2007 para 3,2% entre 2008 e 2011. No caso do consumo do governo essa contribuição caiu de 0,69% para 0,64% no mesmo período.
Quanto à contribuição dos investimentos, houve uma estagnação de 1,5% ao ano no período em questão. A incerteza predominou na economia mundial e criou resistência em muitas empresas para tocar seus empreendimentos. No setor público eles andaram em ritmo lento por questões políticas e ambientais, e também por mudanças no comando de órgãos responsáveis por grandes obras e pela má qualidade dos projetos.
No caso das exportações, a contribuição para o crescimento caiu de uma média de 1,4% ao ano entre 2004 e 2007 para 0,1% entre 2008 e 2011. O enfraquecimento do comércio mundial derrubou preços e quantidades de produtos exportados pelo Brasil. A China, mesmo tendo seu crescimento reduzido, minimizou esse impacto ao manter forte demanda por matérias primas. Os efeitos negativos nas exportações foram determinados substancialmente pela valorização do real e pela concorrência da indústria chinesa.
O consumo das famílias minimizou a crise por conta do desempenho do mercado de trabalho e do crédito. Comparando a média dos anos 2004-2007 com a média de 2008-2011 vê-se que o desemprego foi reduzido de 10% para 7%, a renda real dos empregados saltou de R$ 1,4 mil para R$ 1,6 mil, a massa salarial passou de R$ 81 bilhões para R$ 126 bilhões e o crédito para pessoas físicas em relação ao PIB foi de 8,8% para 14%.
Com o salário e o crédito crescendo os consumidores foram às compras, vitaminadas ainda com a redução do IPI, e isso amenizou a crise no Brasil. Porém, o endividamento também aumentou, passando de uma média de 24% para 36% da renda na comparação entre os períodos 2004-2007 e 2008-2011.
Dados de 2012 indicam que a imunização do País à crise como vem sendo tocada está esgotada. O crescimento deve ficar entre 1,5% e 2%. Mesmo com a prorrogação da redução do IPI e a elevação das compras do governo ele será pífio. As empresas estão com estoques elevados e as famílias comprometem parte expressiva da renda com as dívidas.
A crise mundial deve durar pelo menos mais dois anos. É preciso ações mais eficazes para fazer o Brasil voltar a crescer. Duas são as saídas: destravar os investimentos públicos, promovendo concessões e parcerias com o setor privado, e começar uma reforma tributária que reduza custos para as empresas e eleve o poder de compra dos consumidores, começando pela substituição imediata do PIS/Cofins e do INSS patronal.
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Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.
Marcos Cintra
Opinião Econômica
58, doutor pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, é secretário das Finanças de São Bernardo e autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
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