Artigos

Segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Voto e o poder de sedução dos candidatos

Mais uma vez os eleitores são chamados, nesta oportunidade, para escolher prefeitos e vereadores, e para tal, os candidatos devem seduzi-los, para que possam assumir almejados cargos. Contudo, é possível limitar, senão mensurar o poder de sedução dos candidatos?  

                                                         Ao assistir o horário eleitoral, o cidadão mais atento deve perguntar-se: “Será que os candidatos estão se referindo ao mesmo município na qual resido?”

                                                         Tomando por base a propaganda dos candidatos da situação (quer referente à reeleição, senão daqueles que são apoiados pelos atuais prefeitos), chega-se a conclusão que os municípios em questão estão em vias de se tornarem “regiões de primeiro mundo”. Os problemas de segurança, saúde, educação, transporte coletivo, dentre tantos outros que atormentam a população, foram definitivamente resolvidos, ou encontram-se em vias de não mais existir. Já as propagandas da oposição relatam municípios em situação periclitante, pobre, violento, sem atendimento de saúde, com grande parcela da população composta por analfabetos, sem transporte coletivo, ou seja, o cidadão não recebe nenhum atendimento por parte do Poder Público Municipal.

                                                         Tal disparidade, ao certo, visa seduzir o cidadão a manter o que vem sendo feito (votando nos candidatos da situação), ou mudar (tentar ao menos), votando na oposição.

                                                         Até aí, inexiste problema, afinal, tem o eleitor o livre direito de escolher o candidato que melhor atender seus interesses, com a finalidade de tornar-se um bom prefeito e um bom vereador.

                                                         Ocorre que muitas vezes o cidadão, quer por desconhecer a real importância do voto, ou ainda, sob a justificativa de que “nada muda”, ou mesmo calcado no chavão de que “todo mundo é ladrão”, abdica do voto, ou vota em candidatos caricatos.

                                                         Votar é escolher, dentre os candidatos existentes, o mais capacitado para gerir a cidade, o estado ou o país. Tal escolha se assemelha a eleição de alguém para gerir financeiramente uma casa ou uma empresa, dando ao escolhido livre acesso aos valores recebidos mês a mês e, da mesma forma, como tal dinheiro será gasto (com a diferença que, eleito, o escolhido permanece no cargo até o final do mandato, já o administrador pode ser rapidamente demitido). O voto se assemelha a entrega de um cheque dado em branco e assinado por cada eleitor, afinal, o dinheiro público utilizado pelo gestor tem origem no bolso de cada cidadão, frente ao pagamento dos impostos.

                                                         O eleitor, ao invés de “olhar para o próprio umbigo”, deveria preocupar-se com as razões pelas quais a pessoa pretende torna-se prefeito ou vereador, se pretende trabalhar em favor da população, ou atender seus próprios interesses. Ainda, se o candidato respeita a lei, em especial a eleitoral, se não abusa na fixação de faixas e colocação de cavaletes pela cidade, afinal, se antes de ser eleito, a lei não o limita, será que “com o poder nas mãos”, quer o prefeito, quer o vereador, respeitará algo ou alguém, senão sua própria vontade?

                                                         Infelizmente ainda é comum que o voto seja motivado por promessas de algum tipo de vantagem pessoal, colocando o eleitor de lado o interesse coletivo, especialmente os mais primordiais, como saúde, educação e segurança. Da mesma forma, por mais que exista restrição, alguns candidatos ainda conseguem burlar a fiscalização, e oferecem churrascos, cestas básicas, jogos de camisas, dentre outros adornos, tudo com um único objetivo: seduzir o eleitor para que confie a ele seu voto (semelhante à troca feita no início do século XVI entre os espelhos portugueses com as riquezas brasileiras).

                                                         Da mesma forma, pode-se confiar em candidatos que prometem obras impossíveis de serem realizadas, especialmente pela falta de orçamento para tal?

                                                         É possível acreditar em candidatos ao legislativo que por quatro anos deram as costas à população, deixando de lado o debate de questões básicas, e que deveriam ser oferecidas pelo município (atendimento de saúde, vagas em creches e escolas de qualidade, transporte coletivo digno), todavia, de forma célere, concedem títulos e honrarias para algumas pessoas, ou ainda, em tempo recorde, aprovam a elevação de seus próprios salários?

                                                         Infelizmente o poder de sedução de um programa eleitoral recheado de efeitos especiais, ou de promessas pessoais, é muito mais eficaz que a honestidade, que o comprometimento com o bem público, que o respeito ao cidadão, que o respeito ao dinheiro público, e acima de tudo, do respeito à lei.

                                                         Cabe a cada eleitor, ao escolher o seu prefeito e vereador, ao invés de pensar nos seus interesses pessoais, preocupar-se com a coletividade, com a honestidade dos escolhidos, afinal, se existem políticos corruptos, é por que existem eleitores que os elegeram, possibilitando assim, que o dinheiro destinado à educação, saúde, segurança, transporte coletivo, etc., seja canalizado para o pagamento dos “sanguessugas”, “mensaleiros”, dentre tantos outros rótulos dados à corrupção que assola a administração pública brasileira.

____________________________________________________

Fábio Cenci Marines, advogado - vicepresidencia@oabsorocaba.org.br

Fábio Cenci

Fábio Cenci Direito do Consumidor

Advogado especialista em Direito Bancário, pós-graduando em Direito Processual Civil e sócio do escritório Cenci Advogados. CENCI ADVOGADOS Rua Cafelândia, 344, Vila Trujillo - Sorocaba/SP - Tel/fax: (15) 3233-6741 / 3231-1805. E-mail: fabiocenci@cenciadvogados.adv.br

veja mais artigos deste colunista