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Quinta-feira, 20 de junho de 2013

O Brasil e o Brazil

Para a língua portuguesa, escreve-se Brasil com a letra “s”, contudo, em outras línguas, a grafia é feita com a letra “z”. Será que, semelhante à escrita, existem “BraSil” e BraZil?

                                               O Brasil, no entendimento de muitos entendidos em política e economia, é a bola da vez (confesso que desde que me conheço por gente ouço que o Brasil é o país do futuro), tendo em vista a economia estabilizada, câmbio controlado, pleno emprego, etc. Prova disso é a realização dos dois maiores eventos esportivos do mundo (copa do mundo em 2014 e olimpíadas em 2016). Da mesma forma, o Brasil resguarda boas condições de ser escolhido para sediar a Expo 2020, sem prejuízo da Jornada Mundial da Juventude, que terá a presença do Papa Francisco.

                                               Para que tais eventos possam ser realizados, uma avalanche de direito deverá seu gasto. Pode-se tomar como exemplo a quantia gasta (inclusive de origem pública) na construção dos estádios que irão sediar os jogos da copa do mundo de 2014 (no que diz respeito à Expo 2020, fala-se na necessidade de construção de um centro de convenções que custará cerca de 4,4 bilhões de reais).

                                               Ainda sobre a realização da copa do mundo, rios de dinheiro vêm sendo gastos para que o evento respeite o “padrão FIFA” em questões relacionadas à infra-estrutura necessária.

                                               Assim, quem freqüentar estes eventos (na grande maioria estrangeiros e a população local mais privilegiada financeiramente) conhecerá o “BraZil”, que é evoluído, que conta com um sistema de saúde avançado e competente, que conta com hospitais de ponta, que oferece um sistema de transporte rápido e eficiente, tendo em vista a gama de helicópteros e jatos particulares, dentre outras benesses de um país rico e desenvolvido.

                                               Este mesmo “BraZil” é usufruído por grande parte da classe política, afinal desfilam em carros e aviões luxuosos, que além de receber salário, contam com verba para gastos com o gabinete, para pagar assessores (o trabalho deve ser tão grande que em Sorocaba debate-se a contratação de mais um, claro, pago com dinheiro público), moradia, sem prejuízo de outras benesses outorgadas a estes profissionais da política pois, sem medo de errar, pode-se afirmar que ser político, para muitos, tornou-se profissão (se deixarem as benesses e as vantagens dos cargos públicos, morrerão de fome).

                                               Os dois últimos ocupantes do Palácio da Alvorada em Brasília foram acometidos por séria doença (câncer), e tiverem a vantagem de, por viverem no “BraZil”, receber atendimento de ponta, e em pouco tempo encontravam-se curados.

                                               Mas e o “BraSil”?

                                               O “BraSil”, utilizado pela massacrante maioria da população, oferece um transporte coletivo caro e ineficiente, garante um serviço educacional pífio, que em muitos casos, sequer tem capacidade de alfabetizar os “braSileirinhos”, proporciona segurança pública incapaz de evitar que um pai de família, ao retornar do trabalho diário,  seja roubado, senão assassinado.

                                               O que dizer então dos “braSileiros” acometidos por algum tipo de doença que demande atendimento médico hospitalar. Na maioria dos casos, resta ao cidadão rezar para não ficar doente, visto que, se precisar de atendimento médico hospitalar público não o terá.

                                               É bom frisar que o “BraZil” só existe porque, minuto a minuto é retirado dinheiro do bolso dos “braSileiros”, em razão da escorchante carga tributária. Contudo o “BraZil” não devolve aos “braSileiros” aquilo que eles tem direito (sistemas de saúde, educação e segurança dignos e gratuitos), afinal, os “braZileiros” provavelmente gastam todo o dinheiro, inexistindo valores suficientes para serem gastos com os “braSileiros”.

                                               Por outro lado, aponta no horizonte uma maior conscientização dos “braSileiros” que, cansados de ver dinheiro sobrando para os “braZileiros”, estão deixando o conforto do sofá da sala, indo para a rua protestar, inicialmente por uma tarifa de ônibus mais barata, contudo, os reclamos estão se espraiando para melhorias no sistema de saúde, educação, segurança pública, etc.

                                               Será que os “braSileiros” estão percebendo a diferença entre eles e os “braZileiros”, e por conta disso, começando a exigir igualdade de tratamento? Os recentes protestos terão esta capacidade?

                                               Sinceramente tais manifestações podem ser consideradas como o primeiro passo de uma longa caminhada que pode terminar na moralização do país, especialmente no trato com o dinheiro público. De nada adiantará tantas manifestações, se no próximo ano os eleitores escolherem presidente, senadores, deputados (federais e estaduais) e governadores, de acordo com a contrapartida pessoal que poderão receber (cargos, benefícios pessoais, churrascos, cestas básicas, etc.), sob pena de ter que continuar aturando a população “braZileira”.

                                               Se a cada eleição forem renovados todos os cargos (sem que nenhuma pessoa seja reeleita), provavelmente será extinto, senão diminuído o “político profissional” (ou será que no “BraSil” não existem pessoas em número suficiente para que todos os cargos dos poderes executivo e legislativo sejam integralmente renovados com competência a cada eleição?)

                                                Quem sabe o “BraZil” aprenda o que é seriedade, honestidade, caráter com a grande maioria de “braSileiros”, e que estes “braSileiros” possam aproveitar tudo aquilo que existe no “BraZil”, e o caminho para isso é o voto consciente.           

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Fábio Cenci Marines é advogado, professor de direito processual civil do curso de direito da ESAMC Sorocaba: fabio@cencimarines.adv.br

Fábio Cenci

Fábio Cenci Direito do Consumidor

Advogado especialista em Direito Bancário, pós-graduando em Direito Processual Civil e sócio do escritório Cenci Advogados. CENCI ADVOGADOS Rua Cafelândia, 344, Vila Trujillo - Sorocaba/SP - Tel/fax: (15) 3233-6741 / 3231-1805. E-mail: fabiocenci@cenciadvogados.adv.br

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